sábado, novembro 26, 2011

A bússola islâmica - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 26/11/11



SÃO PAULO - Os egípcios até que demoraram para perceber que a substituição do ex-eterno presidente Hosni Mubarak pelo ex-eterno ministro da Defesa, marechal Mohamed Hussein Tantawi, representou a troca de seis por meia dúzia. Mas, agora que se deram conta, voltaram à praça Tahrir e prometem fazer a "verdadeira revolução".

Eles têm boas chances de derrubar o governo, mas, mais importante que deslindar o que acontecerá nos próximos dias, é saber se o Egito vai ou não converter-se numa democracia. As alternativas seriam sucumbir a uma nova ditadura militar ou rumar para um regime teocrático.

Como não existe bola de cristal, o melhor que se pode fazer é descobrir o que os egípcios, de fato, desejam. Uma boa tentativa é o livro "Quem Fala pelo Islã? - O que 1 Bilhão de Muçulmanos Realmente Pensam", em que John Esposito e Dalia Mogahed analisam em detalhe pesquisas de opinião feitas pelo Gallup entre 2001 e 2007 em 35 países islâmicos e estabelecem tendências.

A boa notícia é que a ideia de democracia vem se solidificando. Nas nações pesquisadas, significativas maiorias afirmaram que tanto o islamismo como a democracia são essenciais. Ajudam a compor o quadro favorável o crescente apoio à liberdade de expressão, à emancipação da mulher e a rejeição à violência.
Ao mesmo tempo, boa parte desse bilhão de muçulmanos rejeita a adoção pura e simples do modelo ocidental. A maioria insiste que as tradições religiosas do islã, especialmente a sharia, compreendida como uma espécie de bússola moral islâmica, têm de ser incluídas no pacote.

Um cenário verossímil e otimista para o Egito é que a ala moderada da Irmandade Muçulmana vença o pleito legislativo que começa depois de amanhã e siga a trilha percorrida pelo Partido AK, na Turquia, que desenvolveu ali um tipo de democracia islâmica, não sem semelhança com as democracias cristãs europeias.

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