domingo, novembro 13, 2011

Alerta: há recessão lá fora - ALBERTO TAMER


Alerta: há recessão lá fora
ALBERTO TAMER 
O Estado de S.Paulo - 13/11/11

Atenção Brasília! A Europa pode recair na recessão no próximo trimestre. Não chega a ser novidade, já se previa isso, mas agora é oficial. Quem reconhece é a própria Comissão Europeia, braço executivo da comunidade que analisa regularmente a economia do maior bloco mundial, US$ 14 trilhões, quase 25% do PIB global. O FMI concorda. Sem poupar palavras, o comissário Oliver Rehn afirmou que esse é o "último alerta que podemos fazer". "O crescimento parou na Europa e a economia pode cair em uma nova fase de recessão." Isso ainda pode ser evitado se os governos da União Europeia adotarem medidas fiscais e monetárias para estimular o crescimento.

Solução que atrapalha. Não é o que se vê agora. A solução encontrada nesta semana para a crise financeira mais complica do que resolve o desafio de voltar a crescer. De certa forma, no curto prazo, até pode agravar o risco de recessão porque implica no corte de gastos, investimentos, de ajuste fiscal com aumento de impostos, como a França agora anuncia, para evitar o aumento da divida soberana acumulada no correr dos anos. Ou seja, a recuperação terá de passar antes por forte desaceleração econômica. Não cabe esta coluna informar sobre o receituário para a zona do euro sair romper o circulo vicioso - já fizemos isso antes -, mas repassar para o Brasil o alerta de Comissão Europeia aos membros ao mundo.

Atenção Brasília! Mas a coluna não disse na última quinta-feira que estamos mais preparados do que na crise de 2008, rapidamente superada com uma política fiscal e monetária que deu certo? Sim, mas dissemos também que vai ser preciso mais principalmente agora, quando tudo se agrava na Europa.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin, concorda com coluna que "o Brasil está pelo menos 60% mais preparado que em setembro de 2008". Naquele ano, tinha ativos financeiros de R$ 648,4 bilhões e hoje, tem R$ 1,1 trilhão. "Mesmo com que a crise da zona do euro se aprofunde mais, e haja uma saída forte de capital estrangeiro, há mais recursos disponíveis", afirma Agostini numa análise muito realista. Ou seja, o Brasil não quebra se o mundo desabar a porque tem dinheiro, e um mercado interno vigoroso. Não quebra, mas não cresce. É o desafio que a presidente, a equipe econômica e o BC estão enfrentando. O que falta para conseguir um crescimento mínimo de 3% e evitar o desemprego é investimento do governo e do setor privado em obras públicas e na produção com medidas para fortalecer mercado de capitais.

Governo promete agir. Dilma anunciou nesta semana medidas para os Estados aumentarem em até R$ 37 bilhões seu endividamento para aumentar os investimentos e o BC aliviou o aperto do credito, que fazia parte das medidas prudenciais para desaquecer a economia.

Dá para confiar? Até agora sim. A equipe econômica mostra preocupação com os traumas provocados pela crise financeira na Europa e forte retração da economia mundial. Deve-se admitir que ela cumpriu com rigor a meta oposta, não de aumentar, mas conter o crescimento de 7,2% que aqueceu demais a economia e pressionou a inflação. Talvez tenha sido severa na dose. Esperava um PIB de 4% este ano e ele pode estar recuando para menos de 3%. Aumentam as previsões de apenas 2,8%. Os fatos mostram que o governo soube esfriar a economia e está agora jogando um pouco mais de lenha na caldeira que soltava fumaça. Só que agora é mais urgente porque as caldeiras lá fora estão se apagando rapidamente.

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