quinta-feira, outubro 20, 2011

WAGNER VILARON - Um cardápio 'made in Brazil'


Um cardápio 'made in Brazil'
WAGNER VILARON 
 O Estado de S.Paulo - 20/10/11

Sempre defendi a realização da Copa do Mundo no Brasil. E assim como tantos outros que pensam da mesma maneira, uma das argumentações que mais utilizei para justificar tal posição é o fato de o evento servir para expor o País para o mundo. Os holofotes do Mundial fariam, como farão, com que pessoas de lugares distantes, que sempre identificaram o Brasil apenas ao futebol e ao samba, conhecessem também outras peculiaridades de nosso dia a dia.

E não é que este fenômeno já começou! Graças à natural atenção que a Copa do Mundo provoca e toda vitrine internacional que ela representa, o mundo todo, e não mais apenas meia dúzia de especialistas em política ou economia internacional, já começa a conhecer em detalhes algumas facetas de nossa sociedade. Alguns exemplos:

- O planeta começa a perceber que os interesses individuais, partidários e corporativos que permeiam nossa sociedade são capazes de inviabilizar qualquer trabalho de integração coletiva, por mais nobre que esse possa ser. Ou seja, falar em trabalho pela imagem do Brasil e tão hipócrita quanto utópico.

- Também mostramos para o mundo a incrível facilidade com a qual escândalos de corrupção brotam em nossa sociedade. Não por acaso, ministérios diretamente ligados à organização e promoção da Copa do Mundo, casos das pastas de Transportes, Turismo e, agora, Esporte, tornaram-se centros de desmandos e constrangimento público. Talvez o mais interessante para o observador externo seja perceber que, junto com o problema, oferecemos também a solução, e com tempero à brasileira: nada melhor para superar um escândalo do que outro escândalo.

- E o que falar dos privilegiados gringos que, por causa de todo oba-oba em torno do Mundial, já tiveram a oportunidade de passar por aqui, seja a trabalho ou turismo. Estes puderam constatar que o simples ato de andar pelas ruas brasileiras não é algo tão simples. Se o sujeito está a pé, o sentimento é de intimidação. Mas se está de carro é de pena do pobre possante, que sofre com nosso incrível asfalto que enruga.

Ah, entenderá também os reflexos de uma das cargas tributárias mais altas do mundo, capaz de fazer com que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, frequentador de sofisticados ambientes, reclamasse de nosso custo de vida.

- Já os jornalistas e torcedores estrangeiros que, por causa da Copa do Mundo, começaram a acompanhar mais de perto o futebol pentacampeão do mundo viram que por aqui também é possível ocorrer uma greve de jogadores. Só que, ao contrário da NBA, cá abaixo a questão não é de grana. Os caras simplesmente cansaram de apanhar de torcedores e exigem segurança para trabalhar. "Exigir segurança para trabalhar" é uma frase difícil de explicar para um gringo do hemisfério norte.

Pois é, como vemos, há muita gente que trabalha incansavelmente para convencer a nós, que defendemos a vinda da Copa do Mundo para o Brasil, que cometemos um grave erro de julgamento. E pelo menos esta tarefa eles executam com competência, pois estão quase conseguindo.

Documentário. Por mais que o futebol seja maltratado, vira e mexe algumas obra artística faz com que lembremos o poder que essa modalidade tem de transcender o universo esportivo e colaborar como fator de integração. A mais nova produção que se encaixa neste perfil é o documentário "Sobre Futebol e Barreiras".

Nele, um desfile de personagens interessantes mostra como palestinos e israelenses comportam-se durante a Copa da África do Sul. Dirigido por Arturo Hartmann, João Carlos Assumpção, José Menezes e Lucas Justiniano, o documentário estreia na Mostra Internacional de São Paulo a partir de amanhã. Imperdível!

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