domingo, outubro 16, 2011

UGO GIORGETTI - Triste quarta-feira



Triste quarta-feira
UGO GIORGETTI 
O Estado de S.Paulo - 16/10/11


Primeiro a tristeza do Pacaembu lotado. Esse estádio cheio parece que não mais amedronta ninguém. A mim me dá um certo calafrio quando ouço o ruído da torcida antes do jogo, tão animada, frenética, confiante. Penso sempre que algo pode dar errado. E dá.

O que mais me entristeceu foi a entrada do Adriano. Eis aí um jogador com quem simpatizo. Por mais malandro, por mais indisciplinado, Adriano guarda uma certa inocência, uma ar de carioca dos anos 60, com um tremendo sorriso cativante, que, aliás, exibiu antes do jogo, no banco. Quando entrou deu pena. Até o rosto, habitualmente alerta e alegre, se desfez à medida em que sumia em campo. Nem de longe levou perigo ao gol do Botafogo, pior, foi solenemente ignorado pelos zagueiros rivais. Marcado com cuidado, claro, mas, no fundo, com a preocupação que merece um jogador comum. Foi triste e dava para ver que ele estava plenamente consciente disso.

Adriano vive muito do físico, e o físico ainda está longe do que foi. Quando aparece só, já se vê que está gordo. Quando se coloca ao lado dos outros jogadores a diferença é constrangedora. Espero que ele volte. Desse jeito prefiro não vê-lo.

A mesma noite apresentou outro momento deprimente, envolvendo o Palmeiras. Não me refiro ao incidente com o jogador João Vitor. Isso não é mais novidade, nem surpresa. Nada do Palmeiras, em termos negativos, surpreende mais. Já vimos isso recentemente com Vagner Love e Diego Souza.

O que me chamou a atenção e, naturalmente me deprimiu, foi uma outra coisa. A TV, como costume, transmite os jogos que se dão sempre em campo adversário, em outra cidade. Todo mundo sabe disso. Portanto, o jogo do Pacaembu entre Corinthians e Botafogo, a rigor não deveria ter sido transmitido. O jogo que a TV Globo deveria exibir em S.Paulo seria Palmeiras x Flamengo, jogado no Rio. Até jornais noticiaram, porque é o normal. Mas não foi o que aconteceu.

A Globo preferiu contrariar sua prática habitual e mostrar o jogo do Pacaembu. Fez muito bem. Costumes, hábitos e contratos deveriam se curvar à qualidade do espetáculo. E, em vista das últimas e penosas apresentações do Palmeiras que ultimamente os espectadores foram obrigados a assistir, nada mais justo que fosse substituído por um adversário de melhor qualidade.

Foi melhor até para os torcedores do Palmeiras que, muitas vezes, preferem não vê-lo a ver o que veem. Mas que foi constrangedor foi, ver um time de tão grandes tradições, de tão grandes conquistas ser afastado do vídeo como um timeco sem importância. E não era Palmeiras x Sei lá quem, mas Palmeiras x Flamengo, outrora um dos maiores clássicos do futebol brasileiro.

É muito bom, por outro lado, a televisão mostrar que não há cadeira cativa entre os grandes. Camisa só não ganha jogo, nem garante audiência. Mas, foi duro. E para os sampaulinos também a quarta não foi lá grande coisa. Não pelo resultado, pois empatar com o Internacional em qualquer campo não é nada fora do comum. Mas é que também no S.Paulo vi um pouco do espetáculo que se repetiu com o Adriano.

O S.Paulo fez um estardalhaço com a estreia de Luis Fabiano que não devia ter feito. Não pensou no jogador. Não se deu conta que ele precisava de tempo como qualquer outro jogador que depende do físico. Luis Fabiano não é estilista, nem muito refinado. É rápido, entrão, oportunista. Depende de condições físicas ideais. Apresentá-lo como se estivesse inteiro é pedir à torcida que tenha uma compreensão que torcida nenhuma tem. E isso está visivelmente preocupando o jogador.

Seu caso, no entanto, não é nada comparado ao de Rivaldo. Esse jogador, raro no futebol brasileiro, de grande integridade pessoal, de extensa folha de serviços prestados a diversos times, sofre de um mal que acomete quase todo o grande atleta: não saber parar. Ou melhor: não poder parar. A despedida é trágica, o momento de dizer basta é um pesadelo. Mas esperar até a hora que outros tomem a decisão em seu nome é ainda pior. Estranha e triste quarta-feira em S.Paulo.

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