sábado, outubro 22, 2011

MARGRIT SCHMIDT - O tempo da política


O tempo da política
MARGRIT SCHMIDT
JORNAL DE BRASÍLIA - 22/10/11

Até o momento do fechamento da coluna, o ministro Orlando Silva não havia entregue o boné para a presidente Dilma, mas sua saída é dada como certa. Tornou-se insustentável diante da fartura de notícias divulgadas durante a semana. A saída de Orlando é considerada uma questão de tempo pelo Palácio do Planalto. Acusado pelo policial militar João Dias Ferreira de coordenar um esquema de desvio de verbas do programa Segundo Tempo, o ministro do Esporte enfrenta forte desgaste político e deve deixar o governo em breve. O PCdoB, porém, exige que o PT dê a ele a oportunidade de se defender, já que não admite sair da Esplanada com a pecha de corrupto.

Orlando Silva esteve na Câmara e no Senado onde repetiu exaustivamente que está sendo vítima de um linchamento moral detonado por "um bandido e desqualificado", o PM Dias Ferreira. "Eu estou vivendo um verdadeiro linchamento moral e vou até o fim para lavar a minha honra", disse o praticamente ex-ministro do PCdoB. Na reunião do comando comunista, dirigentes do partido não pouparam críticas ao PT, acusado de estar por trás do inferno astral de Orlando, de olho no milionário orçamento da Copa de 2014, e decidiram partir para o enfrentamento contra petistas e a imprensa.

"Estamos enfrentando um tribunal de ex-ceção, que julga e condena sem provas", re-clamou o presidente do PCdoB, Renato Rebelo. Entre uma e outra reunião, uma comissão liderada pelo ex-deputado Aldo Arantes, secretário de Meio Ambiente do partido, foi procurar o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, que havia se posicionado pela destituição do ministro do Esporte. Parece choro de per-dedores, e é.

Desqualificar o acusador é um argumento tão frágil quanto cínico para os participantes das quadrilhas federais, conforme a caracterização da Procuradoria Geral da República ao acusar os operadores do mensalão de 2005. O PT e seus aliados, em particular o PCdoB, não têm moral para falar mal de gente suspeita de crime e corrupção. Se tivessem vergonha na cara, o petista mensaleiro Joáo Paulo Cunha não seria o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Até por uma questão de isonomia, o direito de presunção de inocência deveria ser estendido para o PM acusador.



PRAXE BRASILEIRA

Sobre o alegado "linchamento moral que julga e condena sem provas", é preciso dizer que não se aplica muito bem na política. Aos políticos é dada a mesma condição da mulher de César. Não basta ser honesto, tem que parecer honesto, sob a pena de ser linchado em praça pública antes do devido processo legal. A opinião pública, um dos vetores da política, costuma ter mais pressa do que os tribunais. Não substituem, é claro, os tribunais, mas vez por outra se antecipa e lá se vai mais um político desleixado catar coquinho no asfalto. Depois de perder o lugar, o defenestrado tem todo o tempo do mundo para contratar advogados e fazer sua defesa no decorrer das investigações da Polícia Federal, do Ministério Público e nos tribunais superiores. Com a vantagem que, no Brasil, dificilmente vai cumprir pena naprisão, nem multa, quando muito perde direito de concorrer a cargo eletivo e tem seus direitos polítcos cassados por alguns anos.

E a urgência do tempo político não pode ser desculpa para cercear a liberdade de expressão como os defensores do ministro Orlando Silva estão a propagar em sites e em entrevistas. Ou será que não estamos todos vendo o que estamos vendo? O dinheiro público sendo desviado largamente das suas finalidades para encher mochilas e caixas de sapato suspeitas. Nesse caso, as imagens não apareceram, mas os números do Tribunal de Contas estão aí para confirmar o que todo mundo comenta em Brasília desde o governo passado: o Ministério do Esporte é usado pelo PCdoB como um feudo para servir aos interesses partidários dos co-munistas. O PM que toruxe a história à tona não filmou ou gravou, tampouco está sob o regime de delação premiada. Os fatos, porém, são tão contundentes que nem precisava. E mais uma vez é preciso dizer. Ou o ministro foi cúmplice ou foi relapso. Não há como mantê-lo no posto, portanto. Para o interesse público, o tempo "ruge" e a Copa vem aí.

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