terça-feira, outubro 11, 2011

LUIZ GARCIA - Imperfeitos prefeitos



Imperfeitos prefeitos 
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 11/10/11

Um levantamento publicado neste jornal de ontem mostra que no Brasil inteiro - do Oiapoque ao Chuí, como se dizia antigamente - 274 prefeitos que conquistaram seus mandatos nas últimas eleições foram cassados por desonestidade concentrada em duas áreas: no processo eleitoral e no exercício dos cargos.

O triste campeão da lista é o pobre Piauí, com 50 casos, seguido por Minas, com 38. O nosso Rio tem nove cassados. Nenhum estado escapa ileso.

Especialistas atribuem esses números a dois fatores, um animador e outro lamentável. No primeiro caso está um aumento na fiscalização dos prefeitos pela opinião pública - em parte graças à vigilância da mídia. O dado triste seria a má qualidade dos políticos municipais, e isso vai para a conta dos partidos.

Quem entende do assunto faz previsões pessimistas. Entre outros fatores, a situação tende a piorar, principalmente porque a revelação dos casos de corrupção e incompetência afasta da vida política cidadãos honestos e bem preparados, que - até com boas razões para isso - não querem ser confundidos com os desonestos e trapalhões que, pelo menos aparentemente, são maioria no picadeiro.

Os 274 cassados de hoje não são exceção. Entre 2005 e 2008, perderam seus mandatos 296 prefeitos. O problema da corrupção na política local atinge todas as legendas e todos os estados. Promotores e juízes, obviamente, estão sendo eficientes no seu trabalho. Não se pode dizer o mesmo - também obviamente - dos partidos políticos, pelo menos no plano municipal, e isso, é preciso repetir, no país inteiro.

Entende-se, até certo ponto, os 12 mandatos cassados no vasto e distante Amazonas. Mas é difícil, para a opinião pública do país inteiro, engolir os 38 casos em Minas, os nove no Estado do Rio, os dez em São Paulo.

Tem razão o cientista político João Paulo Peixoto quando prevê que a situação tende a piorar, porque a má imagem da classe política afasta da vida pública cidadãos honestos e competentes que temem ser confundidos com os desonestos e incompetentes que - pelo menos na visão da sociedade - são numerosos, talvez a maioria, na carreira política, pelo menos no nível municipal.

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