segunda-feira, outubro 24, 2011

GUSTAVO CERBASI - O "custo Brasil" indireto


O "custo Brasil" indireto
GUSTAVO CERBASI
FOLHA DE SP - 24/10/11



Precisamos aprender a planejar. Não falta dinheiro ao Brasil; falta apenas saber empregá-lo melhor

FRANKFURT, ALEMANHA, quarta-feira, 17h06. Chego caminhando à estação de trem, onde pegaria a composição para Koenigstein para reencontrar minha família após compromissos na Feira Internacional do Livro. Ao pesquisar os horários de partidas, lá estava: Koenigstein, 17h19, e outro meia hora depois.

Durante os 13 minutos que me restavam, comprei sem enfrentar filas a versão germânica do nosso café e pão de queijo, um suco gaseificado de maçã e um pretzel quentinho. Saboreei enquanto assistia ao movimento da estação. Ao ver meu trem chegando, liguei para dizer que chegaria em casa às 17h43.

Pontualmente às 17h19, vi a paisagem começar a correr pela janela, inspirando-me a refletir sobre como a típica precisão alemã criara um momento agradável em meio a um intenso dia de trabalho.

Se não soubesse o horário do trem, ficaria aguardando ansiosamente na plataforma. Certamente, aquele vendedor de pretzels vende mais do que os quiosques de pão de queijo brasileiros, pois a previsibilidade na partida dos trens diminui a ansiedade das pessoas e evita a aglomeração nas plataformas. Mais vendas significa mais dinheiro circulando, mais prosperidade na economia.

A previsibilidade pesa no bolso do trabalhador alemão, que tem mais tempo para consumir? Não, pois ele também usa o tempo livre para produzir mais, seja trabalhando ou estudando. Contando com transporte público eficiente perto de casa, os alemães podem dispor de mais tempo com a família, ter hábitos mais saudáveis e viver uma vida mais previsível. Resultado: menos estresse, menos ansiedade e menos problemas de saúde. Provavelmente, seus gastos com eventuais quitutes ou revistas enquanto aguardam o trem não pesam no bolso, pois em países como o Brasil esse dinheiro também é gasto, só que com tratamentos de saúde.

Se para ir aos meus compromissos aqui no Brasil pudesse contar com horários precisos de saída do transporte, certamente diminuiria os intervalos que faço para compensar problemas de tráfego e tempo de espera. Produziria mais, ganharia mais e também consumiria mais. Meus clientes sabem por que praticamente aboli reuniões em minha agenda. Em São Paulo, para fazer uma reunião de uma hora a dez quilômetros de meu escritório, gasto cerca de três horas do meu dia, contando o deslocamento de ida e volta. Não funciona.

Está aí um aspecto do "custo Brasil" que vai além da óbvia carga tributária, do custo da burocracia, da cara infraestrutura e do custo dos serviços de fura-fila como despachantes e entregas expressas.

Com uma infraestrutura subdimensionada, o trabalhador sai de casa mais cedo, volta mais tarde, descansa menos, produz menos, é mais ansioso, adoece mais e consome menos. Nossa infraestrutura é cara por falta de planejamento, que, por sua vez, decorre de falhas na educação. A educação ineficiente, além de não conseguir capacitar gestores para um planejamento competente, cria um contingente de profissionais subcapacitados que exercem funções que pouco agregam em produtividade e muito pesam no custo.

Ascensoristas, despachantes e motoboys são exemplos de funções perfeitamente dispensáveis em países que contam com elevadores seguros, burocracias adequadamente dimensionadas e trânsito fluido.

O sindicalismo exacerbado, que briga para preservar profissões ultrapassadas, é outro componente de custo. O salário do frentista pesa no preço do combustível, mas existe mesmo que até uma criança seja capaz de abastecer com uma bomba automática. Contamos com cancelas automáticas que reduziriam o custo de estacionamentos, não fosse a imposição de ter funcionários para colocar o tíquete na máquina por nós. Ao mesmo tempo, faltam técnicos competentes para fazer máquinas que não falham.

Educação limitada sai caro, prejudica nossa capacidade de planejar e torna o Brasil menos competitivo.

Precisamos de menos chefes e mais engenheiros e administradores competentes. Precisamos aprender a planejar, o que nunca soubemos fazer. À nossa nação não falta dinheiro. Falta apenas saber empregá-lo melhor.

GUSTAVO CERBASI é autor de "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" (ed. Gente) e "Como Organizar sua Vida Financeira" (Thomas Nelson).

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