sexta-feira, outubro 28, 2011

EDUARDO KARRER - O futuro sob o sol

O futuro sob o sol
EDUARDO KARRER
O GLOBO - 28/10/11

O Brasil, país com um dos maiores potenciais de energia renovável do mundo, saiu da sombra. A geração de energia solar, antes restrita a países ricos, está na nossa mira. Temos localização privilegiada, com alta incidência de sol, e dimensões continentais que facilitam a instalação de unidades de geração, além de uma importante reserva de quartzo para a produção de silício destinado a placas fotovoltaicas.

O futuro do Brasil no setor pode ser medido pelo sucesso de outros países. A Alemanha, líder mundial do setor, gera em energia solar mais do que todo o consumo residencial do Nordeste brasileiro. O país europeu, no entanto, tem na área de maior incidência de sol uma radiação 40% menor que a região mais pobre em insolação do Brasil, no Estado de Santa Catarina. Se já somos privilegiados por condições naturais, agora começamos a construir um ambiente para viabilizar o crescimento da energiasolar no país.

Um dos marcos simbólicos dessa nova fase é a Usina Solar de Tauá, no Ceará, encravada em região com excelentes índices de radiação, comparáveis aos de desertos como o do Sudão e de Mojave (Califórnia).

A unidade de geração, resultado de investimentos da MPX, de Eike Batista em pesquisa e desenvolvimento, foi inaugurada em agosto com capacidade de 1 megawatt (MW) e será duplicada já nos próximos meses, em parceria com a GE, que traz todo a sua expertise na geração solar. A previsão é atingir 5 MWs nos próximos anos e alcançar a meta de 50 MWs ao passo da evolução da matriz energética. Nosso empreendimento contou com o importante apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O setor parece ter acordado, e outras iniciativas privadas já aquecem o mercado. Além disso, algumas iniciativas fundamentais para enquadrar a energia do sol no mercado estão em andamento. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, anunciou que deve incluir a energia solar em leilões de energia e está elaborando, sob demanda do Ministério de Minas e energia (MME), um estudo para a introdução, em escala ampliada, da fonte no Brasil. Temos que trabalhar para percorrer, com a energiasolar, o mesmo caminho da eólica. Após um período de apresentação de tecnologia e de ajustes, as placas fotovoltaicas devem disputar um espaço nos leilões.

Com mais empreendimentos solares no Brasil, aumenta a escala desse setor, impactando de forma positiva nos custos de implantação das usinas.

Sempre colocado com um entrave, o preço dos painéis caiu pela metade nos últimos anos e, segundo projeção do mercado, acelerará a tendência de queda. Hoje, o custo, entre R$ 400 e R$ 500 por MW/h, ainda é sensivelmente maior que o de outras fontes, mas um estudo coordenado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) aponta que, se considerado o preço ao consumidor final, a matriz solar já é competitiva em metade das áreas de concessão.

Com tantos sinais somados à nossa natureza privilegiada, acreditamos firmemente que, nos próximos anos, o sol não será mais apenas um astro que colore e esquenta as nossas terras, mas também uma importante fonte de energia complementar de um país com uma matriz cada vez mais diversificada.

EDUARDO KARRER é presidente da empresa de energia MPX.

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