sexta-feira, outubro 07, 2011

CELSO MING - Operação blindagem



Operação blindagem
CELSO MING
O ESTADÃO - 07/10/11


Os dirigentes europeus, tão lentos e pouco empenhados em encontrar soluções para o endividamento dos Estados e para consertar o euro, passaram a dar regime de urgência à necessidade de providenciar a recapitalização de seus bancos.

Cresceu o risco de crise de confiança bancária. Nesta semana, o Dexia teve de receber uma transfusão dos governos da França e da Bélgica. Há três meses, esse foi o 12.º mais bem classificado entre os 91 bancos submetidos a teste de estresse pelas autoridades encarregadas da supervisão bancária. Três meses depois, está quebrado. A partir daí cabem duas perguntas: (1) de que valem esses testes de estresse; e (2), se foi assim com o 12.º colocado, o que será dos outros 90?

Não é só a perspectiva, ainda que parcial, de calote grego (dívida de 350 bilhões de euros) que ameaça os bancos europeus de naufrágio. Se a Grécia tomar esse rumo, fica bem mais difícil evitar que outros países da periferia do euro (sobretudo Portugal, Irlanda, Itália e Espanha) façam o mesmo.

Os bancos mantêm um equilíbrio delicado entre passivos (depósitos e aplicações dos clientes) e ativos (empréstimos e financiamentos). Devem a curto prazo e dão créditos a mais longo. Se correntistas correrem em massa para buscar seu dinheiro, boa parte emprestada, não estará lá e voltará apenas a prazo e, geralmente, em suaves prestações mensais. Por isso, os bancos têm de trabalhar com forte estrutura de capital para aguentar o tranco em tempos de crise de confiança, como a que começa a pintar agora.

Quando quebrou, em setembro de 2008, o Lehman Brothers provocou tamanho estrago que por pouco não levou para baixo, em abraço coletivo de afogados, uma penca de instituições dos dois lados do Atlântico.

Os tais testes de estresse divulgados em julho indicavam que somente oito bancos precisavam ser capitalizados e, ainda assim, com quantias que não passavam de 2,5 bilhões de euros.

Há duas semanas, quando avisou que os bancos europeus careciam de 200 bilhões de euros em reforço de capital, o Fundo Monetário Internacional (FMI)foi duramente questionado. Agora, líderes europeus, como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Barroso, já admitem que os recursos do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês) - inicialmente restritos ao socorro de Tesouros de Estado - também devem ser usados para recapitalizar os bancos.

Como tanta coisa nesta crise, o problema começa como se fosse um tantinho, mas logo se transforma em tantão. Os tais 200 bilhões de euros para capitalizar os bancos, como indicou o FMI, levam jeito de ser uma conta destinada apenas para início de conversa. Só o Dexia tinha 180 bilhões de euros em "lixo tóxico". E, no entanto, o EFSF será dotado de somente 440 bilhões de euros.

Até agora, França e Alemanha relutavam em acudir os bancos, ainda mais às vésperas das eleições. A população tem dificuldade em aceitar que, em tempos tão duros e de dinheiro tão apertado, centenas de bilhões de euros do contribuinte tenham de ser despejados para escorar os bancos. A rapidez com que, apesar disso, a opinião dos dirigentes está mudando é outro indício do tamanho da encrenca.

CONFIRA

Não é tudo. A recapitalização dos bancos europeus que, provavelmente, será estendida também aos americanos, não basta. Se corretamente aplicada, apenas completará o capital necessário dos bancos para dar cobertura à sua atual carteira de ativos. Não eleva sua capacidade de financiamento. Logo, crédito novo que implique expansão dos ativos precisaria de mais capital.

Efeito paliativo. Se bem feitas, a recapitalização dos bancos europeus e a recompra de títulos da zona do euro pelo EFSF apenas apagarão focos localizados de incêndio. Não removem as causas da crise atual. Elas exigirão tanto o saneamento dos Estados excessivamente endividados como a refundação da moeda única, o euro.

Deixou de ser. A professora da Fundação Getúlio Vargas e economista Vera Thorstensen pede uma retificação no texto da Coluna passada: há um ano e meio não integra mais a missão do Brasil na Organização Mundial do Comércio, em Genebra.

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