sexta-feira, outubro 14, 2011

BARBARA GANCIA - Bêbado também é gente!


Bêbado também é gente! 
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 14/10/11

Agentes de trânsito vão usar Taser, que dispara impulsos elétricos, contra motoristas alcoolizados


Alguém saberia me indicar o caminho para Cascais, por favoire? Devo pegar a saída antes do lago Azul? Ah, é a cidade que fica depois de Resende indo pela via Dutra? Combinado então.

A julgar pelas mais recentes iniciativas dos nossos bravos agentes de , Cascais não pode estar longe. Bem como o Porto, Sintra, Sagres, Vila Real e Estoril. Portugal é aqui e eu já começo a sentir meus bigodes coçando.

Pergunto: para cumprir a lei seca em toda a sua plenitude e rigor, qual foi a iniciativa genial que as autoridades de trânsito de Brasília resolveram perpetrar? Você terá respondido sem piscar: "Ora, eles apostaram na tecnologia e compraram logo um lote de unidades daquele bafômetro ultramoderno que independe de interação e consegue detectar se o manguaceiro tomou além dos limites sem que precise assoprar no tubo".

Ou então, o meu leitor, que é o mais sagaz de todos os leitores deste jornal, terá dado uma resposta apontando no sentido da prevenção. Ele terá dito que o pessoal que cuida do trânsito deve ter tomado alguma medida que una sociedade civil, educadores, comércio e indústria para que todos unidos ao poder público, se juntem num esforço (diga-se, absolutamente viável) para coibir a venda de álcool a quem pretende dirigir.

Pois, veja, meu cliente dileto, como são as coisas. Em vez de o exemplo de civilidade vir de cima, o que é que nossas autoridades fazem? Justamente no país conhecido no mundo inteiro por ter uma polícia que mata criancinhas, nossas autoridades de trânsito querem rosetar.

O leitor mais incauto pode argumentar o seguinte: "Peraí, Barbara! Os agentes de trânsito de Brasília só estão tentando se defender, eles compraram uma meia dúzia de Tasers, um equipamento eminentemente de defesa, que dispara impulsos elétricos e serve apenas para imobilizar o eventual agressor".

E eu lhe direi que o Taser é um artefato ridículo, que mata do coração, que não resolve patavina e que essa questão já tinha sido tratada antes pela Justiça. Quanto vai custar o treinamento do pessoal que usará a engenhoca?

Como é que o agente de trânsito vai saber avaliar se o bêbado é cardíaco, se toma algum medicamento que pode interferir com o coice que o Taser dá, se ele de fato merece um castigo com esse grau de sadismo? Por acaso, vão pagar um curso numa faculdade de Medicina para cada um que receber um Taser para sair por aí no meio da noite?

Alô, gente boa do Detran de Brasília! Querem brincar de "Jackass" façam isso no tempo livre de vocês. No horário de trabalho, melhor tentar civilizar do que estimular a brutalidade. Vão todos alugar "O Vigilante Rodoviário" e passar o fim de semana assistindo às peripécias do inspetor Carlos e seu cão Lobo ajoelhados no milho para ver se se arrependem da besteira.

Será que ainda não deu para entender que violência gera violência? E, vem cá: faltou todo mundo na aula da academia que ensinava a lidar com bêbado, foi?

Taser só pega bem em filme pré-adolescente norte-americano. Mas eu não posso negar que o "Jackass" que reintroduziu essa conversa entre nós poderia experimentar do próprio veneno. E tomar ele mesmo uma bela taserada. No fiofó.

P.S. Piada de português só existem três, você sabe. A que foi usada aí em cima é uma delas.

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