domingo, setembro 04, 2011

UGO GIORGETTI - Cariocas


Cariocas
UGO GIORGETTI 
O Estado de S.Paulo - 04/09/11

Nós paulistas não confessamos, mas estamos um pouco perplexos com a performance dos times cariocas neste Brasileiro. Como? Entre os quatro primeiros, três cariocas!? Como é possível, já que tínhamos nos acostumado a olhar para o Rio com certa indulgência, com certa distância que um superior tem em relação ao subalterno.

É claro que já houve provas de que algo tinha mudado, entre outros exemplos anteriores, com a vitória do Fluminense no Brasileiro passado. Mas podiam ser apenas acidentes, algo episódico, mais devido a uma solitária força individual do que a uma improvável ressurreição em bloco do futebol carioca. Além disso, o treinador que colocou o Flu no lugar mais alto do pódio era o mais paulista dos treinadores brasileiros. Muricy nos colocava, nós paulistas, de algum modo como participantes da vitória dos cariocas.

O campeonato atual, porém, não deixa muitas dúvidas. São três cariocas na ponta da tabela e o Fluminense subindo, como se viu na vitória sobre o São Paulo em pleno Morumbi. Como explicar esse estado de coisas? Procuramos em vão nos times cariocas grandes craques. Não há muitos, infelizmente. Um Ronaldo Gaúcho aqui, uma revelação acolá, mas nada de tão extraordinário. Nada que alguns times de São Paulo também não tenham.

Esse raciocínio leva a outro. Quem sabe essa colocação não responde a uma situação momentânea que vai mudar conforme o torneio avança, coisa, aliás, muito comum neste ano. É possível, concordo. É possível que ao fim e ao cabo restem poucos cariocas na ponta da tabela, quem sabe nenhum.

Renovação. Mas gostaria de pensar o contrário. Gostaria que essa pontuação dos cariocas fosse até o fim, não por qualquer sentimento contra os times paulistas, longe disso, mas porque suspeito de que algo bom para o futebol brasileiro esteja ocorrendo no Rio. Desconfio que o êxito atual do futebol carioca se deve à renovação evidente na direção dos clubes.

Não sei muito bem quem dirige o Botafogo e o Fluminense. Sei que houve eleições no Fluminense e um presidente jovem e articulado assumiu. Mas sei bem quem dirige o Vasco e o Flamengo. Basta olhar para eles para ver porque seus times vão bem. Digo olhar, olhar mesmo, observar suas caras, e não me venham com a velha história de que as aparências enganam. Patrícia Amorim e Roberto Dinamite transmitem confiança imediatamente. São mais do que gente do esporte, são esportistas. Competiram. Sabem o que é ganhar e perder na pele, sabem, por isso, a responsabilidade que é dirigir clubes grandes. Principalmente dão a impressão de amadores.

Amador, isto é, quem ama. É nessa condição que se enquadram Dinamite e Patrícia Amorim. Estou cheio de profissionais, e gente que se intitula profissional. Viva os amadores, os que, em primeiro lugar, colocam seu amor ao clube. Só uma vez estive com Patrícia Amorim, rapidamente, numa curta reunião, mas mesmo assim concluí que estava diante de uma figura nova de dirigente. Jovem, olhar rápido e atento, compreendendo imediatamente as coisas e de uma garra e disposição impressionantes. E foi uma atleta vencedora. Surgiu se sabe de onde, coisa que não é tão comum acontecer. Os torcedores saberem de onde vem o dirigente, sua carreira de feitos e vitórias me parece importante.

Dinamite nunca vi pessoalmente, mas sua carreira também fala por si. Nesse caso até mais do que Patrícia, pois foi um dos maiores ídolos da história do Vasco, e não só do Vasco, mas do futebol brasileiro. É impossível deixar de ver também as dificuldades que teve de enfrentar para reerguer o grande clube de São Januário.

Com isso não estou falando que não cometem erros, nem que não há em São Paulo dirigentes assim. Há, sem dúvida, e nomes podem ser apontados facilmente. Mas, a meu ver, não são a regra. No Rio parece que esse tipo de dirigente, que vem com ideais novas e coloca o clube acima de tudo, está se tornando regra, não exceção. Por isso torço para que o êxito desse futebol carioca continue. Dirigente ganha jogo e campeonato, sim. Aliás, só dirigente ganha jogo e campeonato.

Como nas batalhas quem ganha ou perde é o general.

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