sábado, setembro 03, 2011

RUY CASTRO - Verbo tó bé

Verbo tó bé
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 03/09/11 

RIO DE JANEIRO - Há anos, quando se anunciou que haveria um "Rock in Rio 2", jovens começaram a circular pela cidade usando camisetas com o símbolo do "Rock in Rio 1" e uma frase dizendo: "I was". Ou seja: "Eu era". Perguntei-me: por que "Eu era"? No começo, escapou-me a relação entre a imagem e a inscrição. Claro que, depois de árduo exercício intelectual, deduzi que a camiseta queria dizer "Eu fui" ou "Eu estava lá" (no "Rock in Rio 1"), caso em que o correto em inglês seria "I went" ou "I was there". Alguém faltou àquela aula do yázigi.
Outro dia, a contracapa do DVD nacional de um filme americano me informou que, na história, o xerife xis despachou o deputado Fulano para investigar um caso. Tudo bem, xerifes nos EUA mandam pra cachorro -mas a ponto de dar ordens a um membro da Câmara dos Representantes? Foi quando me caiu a ficha: o xerife estava dando ordens ao seu humilde auxiliar -"deputy", em inglês.
Erros desse tipo abundam nas legendas em português de filmes lançados aqui, a provar que elas são traduzidas de orelhada, de alguma edição pirata ou em VHS, não de um texto autorizado, distribuído pela produtora original. Mas as traduções em livro, supostamente mais nobres e cuidadas, também não escapam de grossas batatadas.
O que significa, por exemplo, ler num romance que "o campus está seco"? Que não chove há tempos no campus? Não. No caso, o texto em inglês queria dizer que era proibido beber no tal campus.
Mas meu caso favorito é o de outro romance em que, a folhas tantas no original, o autor classifica dois personagens como sendo "drinking buddies". Ou seja, companheiros de copo. O tradutor, num átimo de criatividade, situou a cena num bar e sapecou que os dois personagens estavam "bebendo umas Buddies" -um tratamento íntimo e informal para determinada cerveja. E viva o verbo tó bé.

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