terça-feira, setembro 13, 2011

RODRIGO BOTERO MONTOYA - Uma crise em câmera lenta


Uma crise em câmera lenta
RODRIGO BOTERO MONTOYA
O Globo - 13/09/2011

Estão se acumulando de forma preocupante as consequências de desequilíbrios macroeconômicos persistentes num conjunto de países industrializados. Até agora, nenhum dos problemas nacionais se reveste de características catastróficas. Sua importância relativa depende da respectiva capacidade para desestabilizar a economia mundial, seja pelo efeito de contágio, seja por constituir um grave risco sistêmico.

A incapacidade que demonstraram os organismos multilaterais de responder com eficácia e celeridade ante situações pontuais de menor tamanho contribui para criar um clima de incerteza que imprime volatilidade aos mercados financeiros. O que se percebe é a insatisfação generalizada com a liderança internacional e o descontentamento com os efeitos sociais de uma crise que se desenvolve em câmera lenta.

A vacilação das autoridades da zona do euro para implementar o resgate financeiro da Grécia colocou em xeque a viabilidade da união monetária, na ausência de uma política fiscal comum entre países com economias heterogêneas. O que não se quis reconhecer de maneira explícita é a impossibilidade de a Grécia pagar toda sua dívida soberana. A questão a decidir é a forma como se deve distribuir o custo de uma reestruturação de passivos entre os credores da dívida. A reticência que manifestam Angela Merkel e Nicolas Sarkozy para aceitar essa realidade está relacionada ao impacto que teria a reestruturação da dívida grega sobre os grandes credores - quer dizer, os bancos comerciais alemães e franceses. Mas, tratando-se de um país pequeno, sofrendo as consequências de sua própria irresponsabilidade fiscal, a crise econômica da Grécia não deveria constituir um problema de dimensões mundiais.

Algo semelhante pode-se afirmar a respeito das dificuldades que a Itália está experimentando, não obstante sua condição de membro do G8, o clube das grandes nações industrializadas. Por um lado, Silvio Berlusconi se encarregou de projetar a imagem da Itália como um país desprovido de um governo sério. No que diz respeito à credibilidade financeira, uma piada perversa sustenta que, para entender por que é tão deficiente o manejo da economia italiana, basta abrir a lista telefônica de Roma para constatar a proliferação de sobrenomes argentinos.

O que constitui uma ameaça sistêmica é a percepção de que a economia americana anda à deriva, sobretudo quando isto coincide com a turbulência europeia. Um grupo lunático conseguiu levar os Estados Unidos à beira da suspensão de pagamentos. O Tea Party é um movimento de protesto populista, motivado pelo rechaço da modernidade, pelo fundamentalismo evangélico e o convencimento de que um presidente americano que não seja anglo-saxão e branco carece de legitimidade.

Seus integrantes questionam a teoria da evolução, propõem medidas punitivas contra os imigrantes ilegais, depreciam os homossexuais e combatem o direito da mulher de receber serviços de saúde sexual e reprodutiva. Estimulam o racismo, a xenofobia e a intolerância.

Um elemento central de sua missão é o desmantelamento do sistema de seguridade social e proteção aos trabalhadores erguidos por Franklin Roosevelt durante a Grande Depressão dos anos 30.

Um programa dessa natureza conduz a alienar as minorias e setores da população cujo apoio é necessário para ganhar uma eleição. Falta pouco mais de um ano para que esse grupo de extremistas conduza os republicanos a um descalabro eleitoral.

Enquanto se cumpre esse ciclo, é previsível que continuem utilizando sua capacidade de obstrução parlamentar para erodir a governabilidade dos Estados Unidos e frustrar qualquer esforço para reativar a economia americana.

RODRIGO BOTERO MONTOYA é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia.

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