domingo, setembro 18, 2011

PAULO SANT’ANA - A volta ao pago


A volta ao pago
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 18/09/11

Na quinta-feira passada, fui participar do Sala de Redação no piquete da RBS do Acampamento Farroupilha.

Mas que mundo agitado é este Acampamento Farroupilha! Gente por todos os lados, centenas de escolas primárias levam para lá os seus alunos, que correm de um piquete para outro, aquela algazarra infantil de fotos, comes e bebes, as professoras lutam para administrar a inquieta visitação das crianças.

E os adultos? Muita churrascada, muita cervejada, muita camaradagem, tudo sob o espírito da pilcha e do chimarrão. Esta tradição gauchesca do 20 de Setembro é mesmo um fenômeno social e antropológico notável.

O Acampamento Farroupilha é apenas um dos fatos sociais que diferenciam as datas de 7 e 20 de setembro.

O amor ao pago faz o gaúcho cantar o Hino Rio-Grandense com mais ardor cívico do que canta o Hino Nacional.

Não é que sejamos menos brasileiros que gaúchos, nada disso. Somos ambos igualmente.

Mas é que sentimos que somos antes gaúchos que brasileiros, não sei se me entendem...

Sempre que dou com os costados no Acampamento Farroupilha, chovem sobre mim convites de vários piquetes para churrasquear com eles.

Acabo mesmo comendo no Galpão RBS o meu aipim tenro, a minha couve cozida, a minha batata-doce, a minha abóbora, o meu milho verde e um carreteiro dos deuses.

Acho que ainda nossa cozinha campeira tinha de ser mais divulgada e promovida. Em Porto Alegre, talvez não haja dois restaurantes de comida gaudéria, um eu me lembro que havia ali na Rua João Alfredo. Não há coisa mais simples e mais saborosa na culinária em geral que a comida campeira.

Mas o meu mais sentido frêmito gaúcho se dá quando ouço, em meio ao Acampamento Farroupilha, um toque de gaita ao vivo.

Esteja onde eu estiver, saio correndo no rumo daquela sanfona e se ela estiver acompanhada de um violão é ali mesmo que me quedo sem pensar no resto da vida.

Nos olhares de muitos frequentadores do Acampamento Farroupilha, noto que um detalhe os arrastou para lá: por essas circunstâncias demográficas, eles foram obrigados a deixar seus torrões natais no Interior e vir viver na Capital.

E, quando chega a Semana Farroupilha, eles se tocam para o Acampamento para recordar do seu pago.

Não há prazer mais hedônico do que lembrar da terra da gente, da infância da gente, daquela ligação telúrica que nos amarra para sempre ao lugar que elegemos como nosso pago.

E é essa volta ao pago que nos carrega para o Acampamento Farroupilha.

Além disso, nada é mais democrático que esse Acampamento. Não se cobra entrada, a não ser pelo estacionamento. E pode entrar qualquer um. Há uma autosseleção espontânea.

E a gente se sente ali como em casa, como se estivesse de pijama.

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