segunda-feira, setembro 05, 2011

O feudo de Valdemar - Revista Época


O feudo de Valdemar
Revista Época 

Mesmo depois da faxina nos Transportes, o chefão do PR ainda controla cargos em agência reguladora
MURILO RAMOS

Desde que o Partido da República (PR) foi atropelado pela faxina que causou 27 demissões no Ministério dos Transportes, a partir de julho, os parlamentares da legenda estão irritados com a perda de espaço no governo. Há duas semanas, os 42 deputados e os sete senadores da legenda começaram a brandir o discurso da independência em relação ao Palácio do Planalto. No gesto mais ostensivo, a bancada colheu assinaturas para a instalação da CPI da Corrupção, iniciativa que é, ao mesmo tempo, uma afronta ao governo e uma contradição com a história do partido.

O senador Alfredo Nascimento (AM), presidente do PR e ex-ministro dos Transportes, disse a interlocutores da presidente Dilma Rousseff, na semana passada, que o partido só voltará a integrar a base governista no Congresso se as investigações sobre irregularidades forem concluídas rapidamente. "Precisamos de nossa ficha limpa para as eleições do ano que vem", diz Nascimento. Se não obtiver o atestado de boa conduta, o PR deverá se bandear para a oposição.

A posição de "independência" assumida pelo partido não faz nenhum sentido, pois o PR nunca deixou a máquina federal. Um dos maiores feudos mantidos pelo PR se encontra na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), órgão que autoriza concessões de portos e interfere em mais de 90% do comércio exterior brasileiro. O PR indicou dois dos quatro principais nomes da agência e ainda avalizou a permanência de Fernando Fialho, afilhado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na direção-geral. Um dos apadrinhados pelo PR, o diretor Tiago Pereira ganhou a vaga tendo pouca experiência na área. Pereira é servidor de nível médio do Ministério da Fazenda e ostenta conhecimentos rudimentares sobre o setor. A indicação deve-se a sua lealdade ao presidente de honra do PR, deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), a quem com frequência presta contas de sua atividade. Na Antaq, Tiago ficou conhecido por receber lobistas e deputados em seu gabinete a portas fechadas e por servir doses de uísque a alguns convidados. Pereira mantinha uma tranca interna que impedia até mesmo o acesso de sua secretária à sala. Perguntado sobre a tranca e as bebidas alcoólicas, Pereira disse que "não existem".

Filho do deputado federal Vicente Arruda (PR-CE), André Arruda também conseguiu um emprego na Antaq. Foi assessor de Pereira na diretoria da agência e, agora, está à frente da Superintendência de Navegação, a mais importante da Antaq, por ser a responsável por autorizar ou vetar fretes marítimos. Para que o neófito André pudesse assumir a vaga, a diretoria da Antaq exonerou uma funcionária com experiência reconhecida na área e sem ligações partidárias. Mesmo no Ministério dos Transportes, o PR manteve poder, pois o substituto de Nascimento, Paulo Passos, é filiado ao partido. No comando do Fundo da Marinha Mercante, que tem um caixa bilionário para a construção de embarcações e reparos de navios, está Amaury Pires, indicado por Valdemar. Será que o PR quer mesmo largar esse osso?

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