quinta-feira, setembro 08, 2011

MIRIAM LEITÃO - Moedas loucas


Moedas loucas
MIRIAM LEITÃO 
O GLOBO - 08/09/11

Quem no mundo acha honestamente que a economia da Suíça é tão robusta e grande, e que sua moeda é tão sólida, que para lá é que devem correr todos os capitais? Ninguém, evidentemente. Mas o Banco Central da Suíça teve de estabelecer esta semana um limite para a valorização do franco, depois de sucessivas medidas para tentar espantar o capital que tenta ir para o país.

O mundo dos ativos monetários está completamente descontrolado. Nada faz muito sentido. A medida da Suíça na prática quer dizer que o Banco Central informou ao mercado que a moeda já não flutua livremente, há um teto para a tendência de alta. O objetivo é impedir que a valorização do franco atrapalhe as exportações e o turismo e provoque deflação nos preços. Isso poderia colocar novamente o país em recessão.

Recentemente, o BC suíço havia ameaçado estabelecer uma relação fixa com o euro, o que equivale na prática a abraçar o afogado. O euro se afoga na crise de dúvidas e dívidas que pairam sobre a união monetária. Só muito desespero para vincular o destino de qualquer moeda ao euro.

Os investidores estavam se refugiando em uma moeda de um país de PIB que não chega a US$ 600 bilhões. Uma das razões é o medo que ronda os balanços dos bancos recheados de títulos de dívida de países da Zona do Euro.

Há outras preocupações no mundo, como a de que a recuperação seja ainda mais fraca na Europa do que se imaginava. A promessa do Fed de manter os juros americanos em zero até o final de 2013 e o baixo nível de atividade no continente forçam os juros europeus para baixo. Isso enfraquece o euro e fortalece outras moedas. O franco suíço é uma moeda tradicional e está logo ao lado. Até o anúncio da medida, na quarta-feira, o franco tinha subido no ano 18% em relação ao dólar, apesar de várias tentativas do BC suíço de mudar a tendência. Na terça-feira, caiu 8,6% em relação ao euro e 9,4% em relação ao dólar. Os investidores começaram então a pensar na coroa norueguesa como uma alternativa.

A s previsões sobre o nível de atividade não se confirmaram. O índice 100 é o PIB dos países no segundo trimestre de 2008. A recuperação é muito mais fraca do que se previa, e, em alguns casos, como do Japão, França e Reino Unido, o PIB atual ainda é menor do que antes da explosão da crise com a quebra do Lehman Brothers, em setembro. Ou seja, muitas economias ainda não recuperaram sequer o que perderam.

A equipe de análise global do HSBC explicou em relatório que os economistas superestimaram em suas previsões os efeitos da política monetária frouxa dos americanos. Esperava-se que a inundação de dólares no mercado empurrasse a maior economia do mundo, levando as outras a reboque. Isso não aconteceu, entre outras razões, porque o dinheiro barato foi parar nas bolsas de commodities e fez o preço dos alimentos e da energia subir, criando o problema adicional da inflação. Isso tirou renda dos consumidores americanos.

O HSBC revisou de 3% para 2,6% o crescimento mundial deste ano. Os países desenvolvidos devem crescer 1,3%, ao invés de 1,8%. Os emergentes também vão crescer menos, apesar de terem um cenário melhor. A previsão para o PIB brasileiro foi diminuída de 4,1% para 3,5%.

O economista Nouriel Roubini calcula que há 60% de risco de uma nova recessão nos Estados Unidos. Ele acha que se isso acontecer os bancos voltarão a ter dificuldade. E desta vez os governos já estão endividados, não poderão salvar novamente o sistema financeiro. A crise que era financeira virou fiscal, e agora pode voltar a ser financeira.

Enquanto predominar esse ambiente de incerteza tudo pode acontecer, como uma corrida a favor de moedas, em uma crise cambial oposta à que o mundo viu nos anos 1990. Naquela época, em países como a Coreia do Sul, Rússia, Indonésia, Tailândia e Brasil os bancos centrais tentavam defender um piso para as moedas. Agora, a Suíça defende um teto. O Japão tem tentado evitar - nos últimos dias com algum sucesso - a excessiva valorização do iene que pode complicar ainda mais a recuperação do país.

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