sexta-feira, setembro 02, 2011

GUSTAVO PATU - Ousadias e desatinos

GUSTAVO PATU
Ousadias e desatinos
FOLHA DE SP - 02/09/11


BRASÍLIA - Quando uma decisão inesperada ou não convencional produz bons resultados, foi uma ousadia. Se dá errado e é preciso recuar, uma imprudência. Em caso de dano irreversível, um desatino.

O governo foi ousado ao enfrentar a crise de 2009 com uma guinada na política econômica e medidas que fugiam ao figurino tradicional.

Aquele sucesso em minorar a recessão e retomar o crescimento da renda ajuda a explicar a decisão de anteontem, inesperada e não convencional, de reduzir os juros antes de uma previsão consistente de queda dos índices de preços.

A combinação de metas para a inflação e para os resultados fiscais foi adotada em um momento de humildade tecnocrática -depois que a ousadia de lançar o Plano Real sem um ajuste dos gastos públicos havia se tornado um desatino, no final da década passada, com a explosão do endividamento.

Dali em diante, o governo limitou sua autonomia decisória, impôs a si próprio uma lista de procedimentos formais e criou uma rotina de satisfações públicas sobre suas condutas e razões.

Essa previsibilidade vem sendo subvertida pelo aumento da autoconfiança entre as autoridades econômicas, com a ajuda da derrocada dos países ricos que costumavam pregar regras de bom comportamento aos emergentes.

A ousadia de 2009 deu lugar à imprudência de 2010, quando o excesso de gastos do ano eleitoral contou com a cumplicidade do Banco Central e as metas foram tratadas à base de brechas, margens e outras liberdades.

Pudores de antes vão sendo deixados de lado. Na divulgação do Orçamento, mal se disfarçou que os números não eram compatíveis com a promessa de aperto fiscal de dias antes. Tampouco a presidente e o ministro da Fazenda disfarçaram a pressão pela queda dos juros -quando muito, apresentou-se o tal aperto fiscal para ajudar a medida a não parecer um desatino.

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