quinta-feira, setembro 15, 2011

CLÓVIS ROSSI - Dilma, Palestina e equilibrismo


Dilma, Palestina e equilibrismo
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 15/09/11 

Na ONU, o Brasil apoiará a criação do Estado palestino, mas promete defender a segurança de Israel


A presidente Dilma Rousseff vai atender o apelo do embaixador palestino no Brasil, Ibrahim al Zeben, para que ela dê apoio ao Estado palestino em seu discurso da quarta-feira próxima abrindo a Assembleia Geral das Nações Unidas.
Os termos exatos em que se referirá ao assunto não estavam definidos até ontem, até porque ainda está sendo elaborado o pronunciamento com que Dilma se tornará a primeira mulher a abrir uma Assembleia Geral.
Mas a política brasileira para o caso está clara: já reconheceu o Estado palestino, o que será reafirmado em Nova York, mas não acha que seja o fim do processo.
É apenas um meio para retomar negociações com Israel para acordo definitivo que escapa à região há mais de 60 anos. "Não queremos que o Estado palestino seja percebido como um entrave para o diálogo de paz", diz o embaixador Tovar Nunes, porta-voz do Itamaraty.
É uma posição que coincide, quase literalmente, com a que defende Mahmoud Abbas, o presidente da AP (Autoridade Palestina): "Nossa primeira, segunda e terceira prioridades são negociações. Não há outro meio de resolver este assunto. Aconteça o que acontecer nas Nações Unidas, teremos que retornar às negociações", declarou o líder palestino após receber, na semana passada, um enviado especial do governo norte-americano.
Os Estados Unidos ainda tentam convencer Abbas de que não é conveniente pedir o reconhecimento do Estado palestino. Não conseguiram até agora, mas só amanhã é que a AP definirá o caminho a seguir.
Ou pede à Assembleia Geral apenas o reconhecimento do Estado como "observador", status idêntico ao do Vaticano, por exemplo, ou vai ao Conselho de Segurança e reivindica a condição de membro pleno.
Na primeira hipótese, os palestinos já contabilizam 122 países a favor, dos 129 que necessitam. Poucos duvidam de que atingirão o número mágico. Já no segundo caso, os EUA vetarão.
Em qualquer hipótese, o "day after" está assim desenhado, segundo Yossi Alpher, do "Bitter Lemons", empreendimento conjunto de israelenses e palestinos:
"Os palestinos se preparam para celebrar a decisão da ONU com grandes manifestações que, dada a configuração da Cisjordânia, poderão afetar, deliberadamente ou não, os colonos, os assentamentos [judaicos], o muro de segurança e Jerusalém. Israel se prepara para a eventualidade multiplicando os dispositivos de controle de manifestações e alocando forças de segurança na esperança de conseguir conter a massa palestina com mínimo possível de desgaste diplomático".
Nessa nova situação, naturalmente tensa, não está claro o papel que o Brasil pode ou gostaria de desempenhar. O que continua valendo é o desejo de manter-se interlocutor confiável de ambas as partes.
Se apoia o Estado palestino, se ajudou a conseguir apoios entre países latino-americanos, não significa virar as costas para Israel. "Nossa primeira preocupação é com a segurança de Israel, que é um Estado democrático", diz Tovar Nunes.
Como essa interlocução se desenvolverá é questão para depois do voto na ONU.

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