sexta-feira, setembro 30, 2011

ALON FEUERWERKER - Sempre há esperança

Sempre há esperança
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 30/09/11


Já que o governo Dilma parece tentado a romper com a herança maldita da submissão incondicional aos beneficiados pela ciranda financeira, não custa reacender, mais uma vez, a esperança de que possa ir além

Está certíssimo o Banco Central quando recusa ouvir os conselhos para manter os juros lá em cima num quadro internacional de desaceleração e que, segundo a autoridade monetária, deve caminhar para deflação.
E parabéns à presidente Dilma Rousseff por dar sustentação política ao BC nessa caminhada, contra as pressões por um aperto monetário nonsense, em cenário de grande ameaça ao crescimento econômico.
O Banco Central está fazendo agora o que deveria ter feito na passagem de 2008 para 2009.
Aproveitar a onda descendente e reduzir os juros. Para abrir espaço ao investimento e ao consumo privados. E para permitir que o governo faça política fiscal de maneira mais saudável. Gastando menos com juros.
Não tem lá grande efeito prático falar do passado, mas é bom que o BC ajude a colocar um ponto final naquela polêmica de três anos atrás. E este colunista fica em situação confortável, por ter defendido então o que o BC faz agora.
Sem, entretanto, tirar o mérito de quem exigia uma coisa três anos atrás e exige outra hoje, radicalmente oposta. Pois ninguém é dono da verdade. E a flexibilidade para mudar " para melhor " é qualidade, não defeito.
Ainda que o quadro hoje seja muitíssimo menos propício do que era depois da quebra de 2008, quando a demanda caiu a zero e os governos reagiram com uma inundação de liquidez.
Ao que o então BC reagiu, por sua vez, advertindo sobre a ameaça de inflação importada por causa da momentânea desvalorização do real.
Mas agir é sempre preferível a resmungar e o governo brasileiro desta vez está agindo.
O governo Dilma faz uma aposta corajosa.
Se lá na frente a inflação resistir, os de sempre vão colocar a culpa nos motivos de sempre. Vão exigir juros e mais juros.
Vão convenientemente esquecer da inflação dos preços administrados.
Vão esquecer, por exemplo, da indexação absurda nos contratos das concessionárias de serviços públicos, uma herança da privatização que até hoje ninguém teve peito para corrigir.
O PT está há uma década no poder, já ganhou três eleições falando mal da privatização. Mas mexer no vespeiro que é bom, nada.
Já que o governo Dilma parece tentado a romper com a herança maldita da submissão incondicional aos beneficiados pela ciranda financeira, não custa reacender a esperança de que possa ir além.
De que tome coragem para atacar as injustas e injustificadas relações de desigualdade entre os bancos e seus clientes. Injustiça que se traduz numa palavrinha inglesa: spread.
A diferença entre o que o banco paga de juros a quem poupa e o que cobra de quem lhe pede dinheiro emprestado.
Uma diferença que o Brasil calcula multiplicando por dez. O banco chega a cobrar pelo empréstimo dez vezes o que paga ao poupador. Se não for mais.
Isso sem contar as gordas tarifas.
Daí que nossos governantes possam passear pelo mundo cantarolando a saúde do sistema bancário brasileiro, quando na verdade somos todos vítimas de uma doença: a falta de crédito barato e de longo prazo para o cidadão comum.
O brasileiro que não tem amigos no governo e não tem acesso às diversas modalidades de juro subsidiado, especialmente no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Essa massa de gente paga duplamente o pato. Paga no spread abusivo cobrado pelos bancos. E paga nos impostos que o governo repassa ao BNDES para rodar a máquina.

Risco
Diante do sucesso aparente do PSD, os demais ensaiam contra-atacar com a aprovação de uma janela de infidelidade ampla, geral e irrestrita. Para evitar que os insatisfeitos migrem só para o partido do prefeito Gilberto Kassab.
Como desejo é legítimo, mas corre forte risco de cair no Supremo Tribunal Federal.
Onde há a dúvida sobre a legalidade de o Congresso suspender a vigência de norma constitucional, como a que deu base à decisão de 2007 sobre a relação entre os partidos e os mandatos.

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