sexta-feira, agosto 12, 2011

ROBERT B. REICH - Standard &Poor"s não tem o direito de rebaixar os EUA


Standard &Poor"s não tem o direito de rebaixar os EUA
ROBERT B. REICH
O ESTADÃO - 12/08/11
Se a agência tivesse feito seu trabalho para evitar a crise, o déficit orçamentário seria bem menor e a dívida do país não pareceria tão ameaçadora

O rebaixamento feito pela Standard & Poor"s da dívida dos Estados Unidos não poderia ocorrer num momento pior. E, como resultado, os custos de tomadas de empréstimo pelo governo crescerão em todos os níveis, os juros sobre hipotecas com taxas variáveis de juros vão aumentar , assim como os empréstimos para compra de carro, os juros sobre o cartão de crédito e qualquer outro centavo que você tomar emprestado.

Por que a S&P adotou essa medida? Não foi porque os Estados Unidos deixaram de pagar seus credores no prazo. Como você deve ter visto, evitamos um calote. Também não foi porque poderemos deixar de pagar nossas contas do fim de 2012, caso os republicanos do Tea Party novamente fizerem o país de refém quando seus votos forem necessários para elevar o teto da dívida.

Esta é uma preocupação legítima e poderia ser uma razão para rebaixar a nota, mas não foi este o raciocínio da agência de classificação. A Standard & Poor"s decidiu rebaixar a nota porque não acredita que estamos num caminho de reduzir o endividamento do país que ela considera satisfatório - e não vamos fazer isso da maneira que ela prefere.

Esta foi a alegação da agência: "O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal que o Congresso e o governo aprovaram recentemente não bastará para estabilizar a dinâmica da dívida de médio prazo do governo". A agência também responsabiliza o que considera um enfraquecimento da "eficácia, estabilidade e previsibilidade" das instituições políticas e dos responsáveis pelo governo.

Desculpe perguntar, mas quem deu à S&P autoridade para dizer quanto e como o país deve reduzir a sua dívida? Se pagamos nossas contas, nossa nota de crédito é boa. Caso contrário, a nota é ruim. Quando, como e o montante que deixamos de pagar, ou mais exatamente a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) não interessa à S&P.

A intromissão da agência na política dos Estados Unidos é irônica porque grande parte do nosso endividamento hoje está ligada ao fato de a própria S&P (junto com outras duas grandes agências, a Fitch e a Moody"s) não ter cumprido seu dever antes do colapso financeiro. Até as vésperas da crise de 2008, a S&P deu um triplo A a alguns dos mais arriscados pacotes de títulos lastreados por hipotecas e obrigações de dívida respaldadas por colaterais, em Wall Street.

Tivesse a agência feito o seu trabalho e advertido os investidores do grande risco que Wall Street estava assumindo, as bolhas imobiliária e de endividamento não teriam inflado tanto - e suas explosões não teriam derrubado a economia como ocorreu.

Você, eu e outros contribuintes, não precisaríamos socorrer Wall Street; milhões de americanos estariam trabalhando em vez de depender do seguro-desemprego; o governo não precisaria ter implementado programas de estímulo maciços, para injetar recursos na economia e salvar milhões de empregados; e o Tesouro contabilizaria uma arrecadação fiscal muito maior, com impostos pagos por indivíduos e empresas em situação muito melhor que hoje.

Em outras palavras: tivesse a S&P feito o seu trabalho na última década, o déficit orçamentário seria bem menor e a dívida futura do país não pareceria tão ameaçadora. E agora ela também não está fazendo o trabalho que lhe compete. E de novo pagaremos um alto preço por sua negligência.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Nenhum comentário:

Postar um comentário