sábado, agosto 27, 2011

PAULO PICCHETTI - Alta externa de commodities impacta a inflação no Brasil


 Alta externa de commodities impacta a inflação no Brasil
PAULO PICCHETTI
 FOLHA DE SP - 27/08/11

A possibilidade de nova recessão nas grandes economias tomou um papel central na discussão de conjuntura nas últimas semanas. Um dos desdobramentos desse cenário seria a reversão na tendência de aumentos dos preços das várias commodities no mercado internacional.
A desaceleração já ocorre, com diferentes intensidades, refletindo fundamentos dos mercados distintos.
De forma geral, podemos olhar para um indicador agregado como o Índice Reuters-CRB de Commodities (CCI), composto pelos preços internacionais de produtos agrícolas, metais e combustíveis.
Para separarmos variações de curto prazo de tendências mais representativas, podemos olhar para variações nos valores mensais comparados com os mesmos períodos de anos anteriores.
Na crise de 2008/9, por exemplo, o CCI chegou a cair 30,7% em abril de 2009 ante o mesmo mês de 2008. A recuperação de 2010 devolveu parte dessa queda: em abril de 2010, o CCI estava 29,5% acima do de abril de 2009.
Esse movimento de alta continuou forte até maio de 2011, quando o CCI mostrou elevação de 43,1% sobre o mesmo mês do ano anterior.
Desde então, as variações mensais com ajuste sazonal acumularam queda de 6,3% entre maio e julho, sendo o acumulado em 12 meses até julho 29,4% maior do que o de julho de 2010.
Uma questão importante são os desdobramentos desse movimento de preços externos sobre os preços internos. A relação mais direta pode ser sentida no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPPA), um dos componentes do Índice Geral de Preços (IGP) da FGV.
Em termos quantitativos, podemos estimar o impacto desse movimento dos preços internacionais das commodities sobre os preços no atacado no Brasil, usando um modelo econométrico especificado de forma a captar as relações dinâmicas entre o IPPA e seu próprio passado, e com os valores contemporâneos e defasados do CCI.
Com uma amostra de janeiro de 1999 a julho de 2011, esse modelo mostra que os impactos das variações do CCI sobre as variações do IPPA são distribuídos ao longo de cinco meses, ao término dos quais o IPPA absorve 58% das variações do CCI.
As perspectivas do impacto da redução do crescimento econômico mundial sobre a desaceleração dos preços internacionais têm então um desdobramento positivo pelo menos na dinâmica esperada da evolução dos preços no Brasil.
O desafio da política econômica é aproveitar esse lado positivo do cenário internacional de forma a minimizar os efeitos negativos da desaceleração do nível de atividade associados a ele.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

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