quinta-feira, agosto 18, 2011

JANIO DE FREITAS - A defesa do futuro


A defesa do futuro
 JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 18/08/11

A estratégia militar e a diplomacia nacional têm que ser associadas na elaboração e integradas na execução


NO MINUCIOSO RETRATO que traçou de Nelson Jobim como pessoa (carente até "de virtudes básicas") e como ministro que "fez mal à nação" e "já vai tarde", o general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa tange um assunto que, a rigor, precisa ter prioridade na agenda do novo ministro da Defesa, para corrigir e evitar um duplo desvio - o de muitos bilhões para fins errados e o da defesa do Brasil para o futuro talvez problemático.
Diz o general em seu artigo, registre-se que bem escrito, a propósito da "Estratégia Nacional de Defesa": "Megalômana, sem prazos e recursos financeiros delimitados". E cercada por "promessas de reaparelhamento e modernização quenão se realizaram", havendo do ministro decaído "só palavrório, discursos vazios, promessas quenão se cumpriram, enganações e mais enganações".
Os conceitos que o artigo externa não são novidades, propriamente, nem próprios apenas do autor. Há bastante tempo era possível detectá-los. Ou, quando menos, intuí-los pela sisudez com que a FAB recebeu o desprezo por suas apreciações técnicas sobre novos caças; o alheamento da Marinha na marota entrega de sua futura base de submarinos à Odebrecht sem obediência às normas; e a notória insatisfação do Exército com seu envolvimento em operações policiais sem prévias avaliações de seus comandos.
A disciplina do silêncio absoluto é, ela sim, uma novidade apreciável como indicativa da profissionalização militar. O general Lessa expressou um consenso, publicamente, por sua condição de reformado e de ex-presidente do Clube Militar. Mas o conteve até não ser causa de fermentações.
Do propalado reaparelhamento à fábula da Estratégia, tudo foi mal conduzido desde o princípio. Lula não apenas se curvou ao que o general Lessa define como "baboseiras, palavras ao vento e falácias" de Jobim. Intrometeu-se em decisões técnicas do setor militar a pretexto de planos estratégicos e conveniências diplomáticas, que não eram senão balões circunstanciais.
A exemplo da cômica "aliança estratégica" combinada no papo em que Sarkozy enrolou Lula para comprar-lhe 36 dos caças mais caros e que nenhuma Força Aérea aprovou, exceto a tão francesa quanto o fabricante em má situação.
Em tudo isso, os menos ouvidos foram os militares, teoricamente detentores das aptidões requeridas pelo tema. E, quando ouvidos, daí não decorreu que suas formulações recebessem a esperada consideração. Nelson Jobim sobrepôs-se. O resultado é o definido no artigo do general Lessa.
Estratégia militar e diplomacia nacional têm que ser associadas na elaboração e integradas na execução. A tal Estratégia Nacional de Defesa ignorou esse princípio essencial. Erro invalidante, tanto mais em um mundo que nesta semana já não é o que era na semana passada, nem será na próxima o que é nesta. Mundo veloz em que o Brasil parece enfim alçar-se, com circunstâncias favoráveis, sem no entanto haver coerência entre os fatores que vão definir o seu rumo. Simplesmente vamos indo, o que não é um modo de ir mesmo.
As hipóteses sobre o futuro nesse mundo são as mais variadas. Já que têm preocupações um tanto pessimistas quanto às ambições sobre o pré-sal, e outras, muito primárias e superadas, quanto à Amazônia, debater e fixar as estratégias nacionais deveria ser prioritário nos setores apropriados do governo. Tudo está longe disso. Mas a oportunidade é boa outra vez.

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