sábado, agosto 20, 2011

IVAN MARTINS - Ele não quer transar?


Ele não quer transar?
IVAN MARTINS
REVISTA ÉPOCA ONLINE

Calma, ainda não é o fim do mundo
  Reprodução
IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA
Ao contrário do que diz a lenda, homens não estão sexualmente disponíveis todo o tempo. As mulheres casadas sabem disso, as namoradas sabem disso, até as amantes, depois de algum tempo, descobrem que é assim. 

Não estou falando da ansiedade do primeiro encontro, quando o sujeito, muitas vezes bêbado, acha que tem de improvisar uma performance que supere, ou pelo menos iguale, as incontáveis proezas sexuais que ele, desde os 14 anos, ouviu narradas por amigos e inimigos. 

Não. 

O objeto do meu interesse é a falta de desejo no interior da relação, quando o livro chegou à página 50 ou 100, quando as coisas estão tranquilas, e, subitamente, aquele sujeito que costumava jogar a mulher na parede e embasbacar-se com seu corpo nu parece mais propenso a jogar-se no sofá e abrir um livro – ou apertar, sem pressa, os botões do controle remoto. 

Vocês sabem do que se trata. 

Acho que toda relação tem esses períodos de castidade involuntária. Em alguns casos, a escassez de sexo será a marca do esgotamento e do fim. Em outras, apenas uma calmaria temporária que desperta, pelo período da sua duração, enorme inquietação em quem está a bordo. 

São esses intervalos de abstinência involuntária que me interessam. 

Eles são chatos para todo mundo, mas especialmente para os homens. Nessas ocasiões, as mulheres reagem como se os parceiros estivessem, propositalmente, recusando algo a que elas têm direito. A ausência de sexo seria uma espécie de crueldade masculina, uma punição ostensiva ou inconsciente e, talvez pior, um tipo de negligência e abandono. Esses sentimentos femininos são extremamente dolorosos, mas, provavelmente, infundados. Eles se baseiam na percepção de que os homens funcionam sexualmente como as mulheres – o que, absolutamente, não é verdade. 

As mulheres podem transar sem sentir desejo. São fisicamente capazes de tomar parte em uma transa mesmo sem estarem excitadas. É uma possibilidade anatômica que elas exercem quando acham necessário – por carinho, por pena, por ambição, por medo ou, simplesmente, para poder dormir em paz. 

Por isso, eu acho, elas se abatem tanto quando os homens negam sexo. É como se eles estivessem recusando um gesto de carinho solidário que toda mulher ou namorada afetuosa é capaz de oferecer. Eu já ouvi mulheres reclamando: “Ele nem tenta! Será que ele acha que toda vez que a gente transou eu estava louca de vontade?” 

Esse tipo de generosidade faz todo sentido entre pessoas que se gostam, mas ela é fundamentalmente estranha ao universo masculino - pela simples razão de que ereções não se produzem por pena, carinho ou necessidade econômica, embora cada uma dessas coisas, no contexto adequado, possa contribuir. 

Homens são incapazes de doar – ou vender - sexo porque, literalmente, o sexo não pertence a eles da mesma forma como pertence às mulheres. Não existe para os homens a possibilidade de uma relação sexual completa sem que eles sintam desejo pela parceira. Mesmo as drogas contra impotência só funcionam nessa condição. Elas potencializam o desejo, não o substituem. 

O que se faz, então, quando se entra num período desses de calmaria e falta de sexo? 

A primeira providência, eu acho, é não hostilizar o parceiro. Lembre-se: ele não pode resolver o seu problema da mesma forma como você resolveria o dele se a situação fosse inversa. É uma impossibilidade. 

Outra dica que já me serviu: ponha-se bonita, de preferência provocante, e saia com ele por aí. Numa calmaria dessas, marquei com a namorada de encontrar amigos num restaurante. Ela chegou linda, com as pernas de fora, e me deixou todo orgulhoso. Enquanto almoçávamos, percebi que, na mesa ao lado, havia três garotas lésbicas que não tiravam os olhos dela. Estavam fascinadas com a minha namorada e, de alguma forma, o desejo delas acendeu o meu. A calmaria doméstica se encerrou naquela mesma noite, em grande estilo. 

A última coisa prática que eu tenho a dizer sobre isso: desligue a TV ou, dependendo do namorado, tire do ar as redes sociais. Eu fico hipnotizado diante de qualquer filme. Sei que há caras por aí que não conseguem mais desgrudar do Facebook. Você não pode exigir que o seu homem esteja em riste, mas pode lembrar a ele que aparatos viciantes não ajudam. Se ele, sistematicamente, se recusar a desligar a TV ou largar do Twitter, mesmo diante de uma crise, estará sinalizando uma escolha – que pode não ser por você. 

Mas, francamente, acho que essas crises são mais emocionais do que práticas. 

Em geral, por trás da inapetência do sujeito estão acontecimentos no trabalho, frustrações íntimas, tensões que estão se montando dentro dele sem que você (ou ele mesmo) perceba. O tempo e uma atmosfera relaxada costumam ajudar a dissipar essas nuvens. 

Às vezes, acho que períodos assim, embora não sejam legais, podem ser úteis. Eles forçam os casais a uma relação mais carinhosa, mais terna, que, frequentemente, fica de lado em benefício da sensualidade. Na falta de sexo, os homens tendem a se desdobrar em outros tipos de demonstração de afeto. Eu já me peguei mais meigo e atencioso nesses períodos. É uma forma de compensar que tem virtudes e seus benefícios. 

Se nada disso parecer uma solução ou um consolo (ups!), lembre do mantra: não somos perfeitos, nem em sexo nem em nada. Gostar significa, necessariamente, aturar imperfeições. Às vezes é falta eventual de sexo, às vezes é coisa pior. Em geral, tudo se resolve. Quando não, há sempre o mundo, vasto mundo, a nos oferecer novas rimas e soluções. 

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