quinta-feira, agosto 18, 2011

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - O quarto ministro

O quarto ministro
EDITORIAL
FOLHA DE SP - 18/08/11
Com queda de Wagner Rossi da Agricultura, faxina alcança PMDB e amplia incerteza sobre estabilidade da base de apoio de Dilma

A demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, poupou a presidente Dilma Rousseff de ter de definir-se em público diante de seu maior embaraço político até agora: como agir em relação às suspeitas de corrupção nas pastas controladas pelo PMDB, maior parceiro na coalizão que a apoia.
A imagem de mandante da faxina na Esplanada estava sob ameaça. Dilma não demonstrava em relação ao PMDB a disposição manifestada quando dos malfeitos no Ministério dos Transportes, do qual foi substituída quase toda a cúpula (embora o PR, formalmente, continue à frente da pasta).
Acumularam-se indícios graves implicando o Turismo e a Agricultura, pastas do PMDB. No primeiro, uma operação da Polícia Federal -embora eivada de excessos- levou à prisão o secretário-executivo, entre dezenas de outros acusados, todos eles já libertados.
Na Agricultura, pesavam sobre Wagner Rossi -apadrinhado do vice-presidente Michel Temer- várias suspeitas envolvendo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que ele comandou entre 2007 e 2010. O secretário-executivo da Agricultura havia sido afastado após indícios e relatos de que um lobista conseguiu aprovar em tempo recorde convênios mediante a oferta de propina para funcionários da pasta.
Soube-se a seguir que Rossi usou mais de uma vez o jato de uma empresa do setor agropecuário -atitude incompatível com o cargo que ocupava. Dilma, contudo, ainda contemporizava e dizia que "todos os ministros" tinham seu apoio, ao ser questionada, especificamente, sobre o PMDB.
Manifestava-se, sob a retórica protocolar, o mal-estar presidencial diante do alcance prático duvidoso de seu esforço moralizador. Rossi gozava de um privilégio que ofendia a norma republicana.
Não há dúvida de que Dilma impôs algum limite às ambições da fisiologia. Sua má vontade com a corrupção tornou constrangedores hábitos que na gestão anterior tinham respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma escapa por ora do risco de que a própria moralização viesse a ser desmoralizada, em nome da necessidade de preservar a base de apoio no Congresso. A saída de Rossi tira um fardo de suas costas. O PMDB segue no governo, mais inconfiável do que nunca.
É impossível governar ancorado só em princípios, é fato, mas o problema brasileiro está na tolerância excessiva com a corrupção. Dilma pode seguir cultivando a imagem de quem afronta o sistema fisiológico, mas nenhum governo passa incólume pela demissão do quarto ministro em oito meses. O novo espectro a rondar o Planalto se chama instabilidade.

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