sábado, julho 30, 2011

ZUENIR VENTURA - A convergência Dilma-FH


A convergência Dilma-FH
ZUENIR VENTURA
O Globo - 30/07/2011

Estávamos no Cafofo do Moreno à espera da Mariana Ximenes, que faria sua primeira aparição depois que foi personagem da entrevista em que o anfitrião conseguiu dois feitos. O primeiro foi transformar uma conversa que costuma ser chata, sem graça, num papo agradável e divertido com uma Dilma que poucos conheciam: antenada, noveleira, fã de artistas, faceira e sobretudo simpática. Nunca pensei. O segundo foi conseguir falar mais do que a entrevistada. Houve momentos em que os dois se confundiam. Talvez tenha sido a primeira vez em que os sapatos de um entrevistador viraram notícia e polêmica. Presentes de sua musa, seriam eles Ferragamo ou Prada? A República se pergunta até hoje.

Éramos uns 20 convidados num miniapartamento que comporta uns dez, mas onde cabe sempre mais um, ou melhor, uma. Havia, como sempre, belas caras e pernas. Trata-se de um point político-cultural às vezes mais animado do que o Baixo Leblon. Aguardava-se, além da estrela da noite, a chegada de Mautner e Caetano para servir os incríveis pratos da chef Carlúcia: galinhada, bacalhau, filé com alho, arroz piemontese, farofa, entre outras delícias.

De repente, Moreno pediu silêncio e se dirigiu ao computador para ler o e-mail que FHC lhe mandara em resposta ao que a presidente dissera dele na entrevista. Era um furo de reportagem que generosamente ele dividiu comigo (na sua coluna vai sair melhor, claro). Além de elogiar a presidente - "atenciosa, gentil e diria mesmo simpática" - o galante sociólogo declara que talvez haja entre eles menos divergências políticas do que ela supõe. "No caso da faxina, por exemplo, estou do lado dela e acho que seria um erro o PSDB deixar de reconhecer o esforço para conter a corrupção."

Depois dessa chamada aos brios dos colegas tucanos, ele continuou: "Assim como a Dilma acha que cabe a ela, como presidente, ouvir a todos, penso que um ex-presidente, embora mantendo-se alinhado com seu partido, não deve usar viseira (a indireta seria para o Lula). Precisa estar aberto a conversar com quem estiver disposto a bem encaminhar os problemas do país, seja de que partido for, sem esquecer dos que não pertencem a partido algum."

Não sei, mas pode ser que esteja surgindo senão um movimento ou uma campanha, pelo menos uma tendência, ainda incipiente e hesitante, liderada pelos dois em direção à convergência. É possível que Dilma e FH estejam dando início a algo inédito num país em que a política vem sendo praticada quase que exclusivamente na base da divergência e do antagonismo ideológico. Ou então do cambalacho fisiológico. Seria uma bela novidade se viesse a ser criada uma frente comum, reunindo os homens de bem de todos os partidos - e certamente os há - contra a corrupção. Ou isso é um sonho?

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