terça-feira, julho 12, 2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Capital da Mutuca

Capital da Mutuca
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SP - 12/07/11


SÃO PAULO - Chamava-se "Mutuca" a charge de ontem de Angeli. Sua genialidade está no fato de descrever o funcionamento da política nos termos do tráfico de drogas. Veja aqui: www.folha.com/111921.
Com a expressão meio aparvalhada, Dilma observa a noite da capital da janela do Palácio da Alvorada. A seu lado, um assessor lhe explica: "Sim, senhora. Ali é uma boca de venda de cargos, compra de ministérios, tráfico de influência e não podemos fazer nada. Aqui em Brasília está liberado".
Podemos seguir a pista e perguntar: quem seria o PCC de Brasília? Quem é do Comando Vermelho? Ou quem são os representantes da ADA (Amigos dos Amigos)? -nome tão sugestivo para traduzir a fisiologia, o compadrio, o familismo e o patrimonialismo que nos definem?
E quem seriam os tubarões do tráfico internacional que alimenta com castelos de areia "os morros" do Planalto central? Empreiteiras?
As correspondências possíveis entre o crime organizado e o mundo da política falam à imaginação. O baixo clero brasiliense talvez pudesse ser comparado à cracolândia, onde vive em função do vício uma horda de zumbis irrecuperáveis. Quem já não viu um deputado com crise de abstinência, atrás de cargos, verbas, favores, migalhas de poder? A polícia já não sabe como lidar com tantos "noias" por aí.
Os partidos (ou certos partidos) agem como facções, rivais ou associadas, disputando espaços de poder e benefícios num mercado ultracompetitivo. Nesse ambiente hostil e saturado, bocas consolidadas, como o Ministério dos Transportes, nas mãos dos mesmos donos desde 2003, valem ouro em pó.
Que Dilma não transa essas drogas parece evidente. Seus antecessores tinham mais desenvoltura no trato com a turma das bocadas. Mas Dilma está disposta a declarar guerra ao tráfico? A figura do capitão Nascimento -voluntarista, principista, autoritário- não lhe é estranha. Mas ela pode contar com a tropa de elite? Ou tá tudo dominado?

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