segunda-feira, junho 27, 2011

EDITORIAL - O ESTADÃO - Sinal vermelho na Petrobrás


Sinal vermelho na Petrobrás
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 27/06/11

O Conselho de Administração da Petrobrás rejeitou pela segunda vez, na semana passada, o Plano de Negócios para o período 2011-2015, que previa mais US$ 25 bilhões de investimentos, além do plano atualmente em execução (2010-2014), de US$ 224 bilhões. Outras propostas da diretoria da Petrobrás para viabilizar o aumento do volume de investimentos também foram recusadas, obrigando a empresa a reavaliar centenas de projetos em pauta, como mostrou reportagem de Irany Teresa e Sérgio Torres, no Estado (18/6, B1).

Dia 13 de maio, a diretoria da Petrobrás já havia apresentado o Plano 2011-2015, sem divulgar valores. O Conselho de Administração rejeitou o plano, pedindo à diretoria da empresa metas mais realistas de investimento, que, ademais, deveriam ter retorno assegurado.

Pelo plano analisado e rejeitado na semana passada, a Petrobrás pretendia que os preços dos combustíveis fossem aumentados em 10%, sem afetar o consumidor, pois haveria concomitante redução da Contribuição de Domínio Econômico (Cide). Ou seja, o Tesouro abriria mão de arrecadação para permitir que a Petrobrás dispusesse de mais recursos para aplicar. A recusa mostrou que a Fazenda não quer cortar as próprias receitas para favorecer a Petrobrás.

Outra proposta rejeitada foi a de transferir a frota de novos navios da subsidiária Transpetro para a empresa Sete Brasil, da qual a Petrobrás participa com apenas 10% do capital, sendo 90% divididos entre os fundos de pensão Previ, Petros, Valia e Funcef e os Bancos Bradesco e Santander. Segundo a reportagem citada, a presidente Dilma Rousseff teme o esvaziamento da Transpetro e do Programa de Modernização da Frota (Promef). A Sete Brasil passaria a controlar 49 embarcações, cuja construção já foi contratada ou será licitada no âmbito do Promef.

A imposição de limites aos planos da Petrobrás se deveria ao fato de a empresa estar atuando em muitas frentes ao mesmo tempo - a exploração do pré-sal, a construção de três novas refinarias, a compra ou aluguel de equipamentos de perfuração e produção em águas profundas, gasodutos, superpetroleiros, petroquímica, geração de eletricidade e transporte de etanol e biodiesel. "O staff técnico da Petrobrás estaria sobrecarregado no esforço para operar tantos projetos grandes e complexos", afirmou o jornalista Norman Gall, diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, em artigo no Estado (B15, 19/6).

A Petrobrás não se aproveitou da alta do petróleo para mais de US$ 100 o barril, neste ano, e que gerou aumento do valor das áreas de exploração futura, como os campos do pré-sal. As ações ordinárias e preferenciais da empresa negociadas em bolsa no País e no exterior caíram entre 14% e 15%, neste ano, contrastando com os papéis de outras grandes companhias petrolíferas. Em 2010, a capitalização da Petrobrás já havia provocado a diluição do capital dos acionistas minoritários e redução dos dividendos.

A estatal tem metas ambiciosas para 2020: produzir 5,4 milhões de barris/dia do óleo bruto ou gás equivalente e 3,4 milhões de barris/dia de refinados. Mas, para cumpri-las, depende do resultado dos investimentos em curso nas áreas do pré-sal, pois já enfrenta o problema do esgotamento de grandes áreas de exploração.

É o caso dos campos gigantes de Marlim e Marlim Sul - este foi responsável, isoladamente, por 13% da produção da empresa no ano passado. Na Bacia de Campos, que responde por 44% da produção doméstica, o esgotamento se dá à taxa de 10% anuais, informou Gall.

A Petrobrás não deverá ter, como no ano passado, nem acesso a novos recursos de investidores privados nem à fartura de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E ainda terá de se sujeitar aos cortes de gastos - especialmente de investimentos - determinados pelo ajuste fiscal do primeiro ano do governo Dilma Rousseff.

O ministro da Fazenda e presidente do Conselho da Petrobrás mostrou o sinal vermelho. O governo quer mais eficiência da estatal, à qual caberá eleger os investimentos prioritários - e espera-se que sejam na produção.

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