segunda-feira, maio 30, 2011

RICARDO YOUNG - Fora de controle?


Fora de controle?
RICARDO YOUNG
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/05/11

O que faz com que o prefeito de uma das maiores cidades do mundo consiga, em pouco mais de dois anos, fazer a sua popularidade cair a 29%, perder a central de imprensa da Copa do Mundo de 2014, a cidade não mais constar na lista das que irão receber a Copa das Confederações e ainda estar atrasado em mais de 30% nas metas apresentadas no início do seu governo?
A resposta é clara: achou que a popularidade inicial, conquistada nos anos de mandato-tampão, seria suficiente para cacifar a ambiciosa tarefa de criar um novo partido às custas das prioridades da cidade. Paradoxalmente, foi exatamente depois de eleito que sua popularidade começou a despencar.
Ora, se um prefeito é gerente de um programa de governo, o de São Paulo deveria ser megagerente. É seu dever coordenar uma enorme equipe de secretários e um exército de funcionários para fazer com que esta megacidade seja minimamente funcional. Mas a agenda política tomou conta da agenda administrativa e a cidade vem colhendo derrotas e mais derrotas.
No caso da exclusão da Copa das Confederações, o atraso das obras do estádio de São Paulo para a Copa foi o estopim. É inacreditável que uma cidade que desfila feitos como a ponte estaiada, a ampliação das marginais e o Rodoanel não consegue resolver os impasses em torno de um estádio de futebol!
Quando o interesse político prevaleceu, várias das obras citadas aconteceram. Agora que o interesse político mudou de campo e as relações da prefeitura e do governo do Estado azedaram, a cidade paga humilhada.
São Paulo já paga muito caro pelas suas sociopatias, seu trânsito saturado, suas enchentes intermináveis, sua ausência de creches, além do descaso das políticas públicas com os princípios de sustentabilidade. Resta à cidade, o que não é pouco, seu dinamismo, sua robustez econômica, sua vitalidade financeira, sua economia criativa e seus serviços cosmopolitas. Mas parece que estas vantagens comparativas não contagiam nosso alcaide.
Estaria o governo da cidade perdendo o controle? Como pode uma sucessão tão grande de más notícias em um espaço de tempo tão curto? E a Rio+20, em 2012, evento igualmente planetário em que São Paulo parece estar passando em brancas nuvens?
Não dá! Prefeitura é coisa séria. Em São Paulo, é coisa seríssima. Foco, competência, compromisso, presença, liderança, capacidade articuladora e popularidade são ingredientes indispensáveis a uma gestão bem-sucedida.
Gilberto Kassab ainda tem tempo para mostrar-se à altura das expectativas dos 71% dos paulistanos que acreditam que seu governo é ruim, péssimo ou só regular. Mas... parece não precisar mais.

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