segunda-feira, maio 02, 2011

OTÁVIO CABRAL - O Ataque ás últimas trincheiras


O Ataque ás últimas trincheiras

OTÁVIO CABRAL

Revista Veja 


Na política como na guerra: com a oposição esfacelada e incapaz de reunir as tropas, o PT prepara sua grande investida - a tomada de São Paulo e Minas, cidadelas onde o partido até hoje não conseguiu fincar bandeira. Na linha de frente do ataque, está Luiz Inácio Lula da Silva. Ao ex-presidente nunca faltou senso de oportunidade. Somando-se a isso a sua declarada dificuldade de desencarnar do poder, o resultado é que o petista decidiu dar uma banana para a quarentena a que havia se proposto e já arregaçou as mangas. Lula tem se encontrado com Dilma Rousseff e com dirigentes do PT com o objetivo de montar sua ofensiva. A estratégia tem duas linhas. Na política, Lula busca antecipar a definição das candidaturas municipais e ampliar o leque de alianças do partido. Na área administrativa, o ex-presidente pretende que tudo continue como antes. Ou seja, que a máquina do governo prossiga trabalhando a favor de seu projeto partidário. Tem dado certo. A União aumentou os investimenros nos estados oposicionistas e prepara projetos com apelo eleitoral para lançar até o ano que vem, quando ocorrerão as eleições para prefeito.

Há duas semanas. Lula deixou seu apartamento em São Bernardo do Campo e foi de helicóptero para Osasco, onde passou a tarde de sábado em um churrasco na casa do prefeito da cidade, Emidio de Souza. No almoço, estavam o ministro Aloizio Mercadante, o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, e o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT-SP. Entre goles de cerveja e fatias de picanha, o ex-presidente defendeu a tese de que a eleição de 2012 é uma prévia da disputa para o governo de 2014. Por isso, o PT precisa eleger uma rede de prefeitos nos trinta maiores colégios eleitorais. Esses prefeitos serão os cabos eleitorais para a campanha ao governo. Lula já trabalha para fechar uma aliança com PMDB e PR em todas essas trinta cidades, o que garantiria tempo de TV superior ao dos adversários. Até junho, quer ter todos esses candidatos definidos. Para comandar o processo, escalou um "estado-maior" formado por Marinho, Emidio e Edinho. O trio terá poder para rifar candidatos indesejáveis, como Marta Suplicy e João Paulo Cunha (veja o quadro abaixo), e intervir em diretórios rebeldes - caso do PT do Guarujá, que resiste a apoiar a reeleição da prefeita do PMDB.

Lula deixou claro quais são os candidatos de sua preferência. Para a capital paulista, insiste que o melhor nome é o do ministro da Educação, Fernando Haddad. "Ele é jovem, simpático e tem uma obra importame no ministério para mostrar", afirmou. Caso Haddad não consiga se viabilizar, a segunda opção é Mercadante. Marta Suplicy está por ora descartada. Ela é boa de largada e ruim de chegada" e tem pouca chance de vencer em dois rumos. Para o governo de São Paulo, a aposta de Lula é Luiz Marinho. Com a intenção de fortalecer seu palanque, ele já declarou ao PMDB que quer apoiar para o Senado o deputado Gabriel Chalita, que se filiará neste mês ao panido. Dessa forma, ficaria fora do páreo Eduardo Suplicy, a quem Lula nunca perdoou por tê-lo desafiado na pré-campanha presidencial de 2002, quando o senador defendeu a ideia de prévia, no partido para a escolha do candidato. Na semana que vem, Lula viajará a Belo Horizonte. Na capital mineira, ele defende o apoio à reeleição de Marcio Lacerda, do PSB, ou a candidatura do ex-ministro Patrus Ananias para o governo. Vontades imperiais à parte, petistas concordam que as pesquisas serão importantes para basear essas escolhas. Desprezados de hoje podem ser candidatos.

A cada duas semanas, Lula se reúne com Dilma para discutir projetos eleitorais. Ele aconselhou a presidente a ir todos os meses a eventos nos dois estados prioritários. E Dilma já aumentou em 50% os investimentos em São Paulo, priorizando escolas técnicas e hospitais. Ela também estuda projetos focados no eleitorado de classe média, como o que prevê o corte de impostos sobre óleo diesel e a desoneração da folha de pagamento de empresas de transportes, o que poderia reduzir em até 40% as passagens de ônibus. A marcha petista está em curso e as próximas batalhas prometem sangue.


Os condenados

Marta Suplicy

Lula e a cúpula do PT descartaram sua candidatura à prefeitura da São Paulo por causa da grande rejeição que tem na classe média. Apesar de sempre largar na frente, nas pesquiss, tem dificuldades para vencer eleições em dois turnos.

João Paulo Cunha

Réu no Mensalão, tem o apoio da máquina do PT para ser candidato a prefeito de Osasco, o secto mais colégio eleitoral do estado. Mas a cúpula quer vetar sua candidatura, para que o julgamento do escândalo não contamine e disputa eleitoral.

Eduardo Suplicy

O comando do PT já negocia com o PMDB o apoio a Gabriel Chalita para a única vaga para o Senado em 2014. Em troca, um petista seria o candidato ao governo. O senador Suplicy, que quer concorrer ao quarto mandato, deve ser rifado.

Roberto Carvalho

O vice-prefeito de Belho Horizonte controla a máquina do PT e quer sr candidato a prefeito. Mas a ordem do comando partidário é apoiar a reeliação de Mácio Lacerda, do PSB, ou lançar a candidatura do ex-ministro Patrus Ananias.

As armas que o PT usará para avançar sobre São Paulo e Minas

Dinheiro de sobra

Abrir as torneiras do Orçamento para as obras nos dois estados. Em SP, neste ano, a média de investimentos é de R58 milhões de reais mensais – 50% a mais do que em 2010

Marcação cerrada


Construir escolas técnicas, universidades e hospitais federais – serviços que beneficiam a classe média – próximo a unidades estaduais

Alianças estratégicas

Fechar já um acordo com o PMDB e PR para as eleições de 2012 e 2014 e retirar as candidaturas do PT nas cidades onde os aliados forem mais fortes

Antecipar a campanha

Definir ainda neste ano os candidatos a prefeito nas principais cidades dos estados para evita disputas internas e pôr a campanha na rua antes dos adversários

Foco na classe média

O governo federal vai lançar proramas de saúde, transporte urbano, educação e habitação voltados especialmente para a classe médias das grandes cidades

Cordão sanitário

Evitar candidaturas e aparições públicas em palanques de mensaleiros aloprados e outros corruptos. Embora, nos bastidores, eles continuem atuando com força total

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