quarta-feira, maio 11, 2011

MÍRIAM LEITÃO - Conta o tempo


Conta o tempo
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 11/05/11
O fato é que em pleno mês de maio ainda não se sabe qual será o crescimento da maior economia do mundo este ano. Há previsões de 2% a 4%. Os mais otimistas ficaram um pouco enfraquecidos depois que foram divulgados os dados do começo do ano.

Monica de Bolle, da consultoria Galanto, disse que o primeiro trimestre mostrou como a economia americana é sensível à alta dos preços de energia. O PIB desacelerou muito com a queda do consumo das famílias, provocada pela elevação dos preços dos combustíveis. Acha que o PIB não crescerá mais de 3%.

Sérgio Vale, da MB Associados, concorda que a economia americana está com dados confusos. Ele acha que a base da retomada é a volta da normalidade depois da crise, mas admite que o petróleo continua sendo um risco.

Obama está contando com dois ativos: um bom momento político e a oposição conservadora meio perdida. Para se reeleger em 2012, no entanto, precisará também de mais fôlego na economia.

O presidente será obrigado a negociar novamente em julho a redução do déficit público. Ao mesmo tempo, o Fed, banco central americano, não poderá fazer um novo programa de expansão monetária para injetar mais dinheiro na economia.

Por isso, a torcida dos democratas é para que o crescimento comece a acontecer com os atuais estímulos fiscais e monetários e que depois a economia continue com suas próprias pernas. Mas não há nenhuma garantia disso. Os números ainda são muito conflitantes. Olhando para o mercado de trabalho, por exemplo, no mesmo dia em que foi anunciada a criação de 244 mil postos em abril, a taxa de desemprego aumentou, de 8,8% para 9%. Embora o setor privado tenha gerado 800 mil postos este ano, o tempo médio de desemprego tem sido de 40 semanas, ou 10 meses.

- Os indicadores conflitantes são típicos de uma economia em recuperação, mas em ritmo modesto. No primeiro trimestre, o crescimento desacelerou em relação ao 4º trimestre, de 3,1% para 1,8%. Isso refletiu a queda do poder de compra das famílias, com o aumento dos custos com combustíveis - afirmou o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

O mercado imobiliário nunca se recuperou completamente. O preço das residências americanas caiu 3% no primeiro trimestre, na comparação com o quatro tri de 2010. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, março registrou a 57ª queda consecutiva do indicador medido pelo website americano zillou.com, especializado no setor imobiliário. Foi também a maior queda trimestral desde 2008. A desvalorização dos imóveis faz com que as famílias que carregam dívidas hipotecárias fiquem ainda mais endividadas com a perda de valor dos ativos. Os bancos também têm que revisar para baixo o valor dos seus patrimônios. Essa foi a origem da crise em 2008 e o fenômeno não foi superado. A estimativa da zillou.com é de que o preço dos imóveis caia 9% este ano. Desde o pico de 2006, os preços estão 30% menores, somando uma perda de patrimônio de US$10 trilhões para os bancos e para as famílias. Cerca de 28% dos proprietários devem mais que o valor de seus imóveis.

O déficit público americano deve fechar 2011 em 11%, segundo estimativa da RC consultores. O Bank of America projeta déficit de 10%. Em 2012, deve ficar ainda alto, em 8%. A consultoria espera crescimento do PIB de 2,3% este ano e de 2% no ano que vem. A utilização da capacidade instalada industrial está bem abaixo da média histórica, de 80%, na casa de 76%.

"Na essência, o paciente ainda continua respirando por aparelhos, como fica evidenciado na alta parcela do crescimento da renda pessoal que é resultado da política fiscal mais frouxa do governo", diz o Bank of America.

O que o banco quer dizer é que a renda das famílias está crescendo não por melhorias no mercado de trabalho, mas porque o governo está promovendo corte de impostos e dando incentivos fiscais para tentar retomar o consumo. Isso tem acontecido de várias formas: ampliação da seguridade social; distribuição de cupons-alimentação; aumento do seguro-desemprego. O problema é que o governo já se endividou demais e não poderá manter esses programas nos próximos anos.

"Retirando efeitos das transferências do governo, a renda das famílias estaria cerca de 8% menor desde a recessão que teve início em 2007", diz o banco.

Alguns programas de suporte ao consumo, como seguro-desemprego e corte de impostos, vão terminar no final deste ano e no início do ano que vem. A estimativa do Bank of America é de que US$100 bilhões deixem de entrar no bolso das famílias:

"Um corte de US$100 bilhões no rendimento das famílias no ano que vem teria um impacto considerável sobre o crescimento econômico de 2012."

E, certamente, sobre a política também.

Contra o tempo

A economia americana está correndo contra o tempo. Grande parte do crescimento econômico está acontecendo por causa de estímulos do governo e do Fed, mas esses suportes têm data para acabar. O presidente Barack Obama desfruta de popularidade pela morte de Bin Laden, mas seu verdadeiro desafio é conseguir manter a recuperação econômica.

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