segunda-feira, maio 16, 2011

GEORGE VIDOR - Trégua nas altas


Trégua nas altas
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 16/05/11

O ciclo de alta dos preços das commodities parece que deu uma trégua. Cotações de alguns produtos (exatamente os que haviam subido espetacularmente, como petróleo, algodão e açúcar) completaram seis semanas com mais quedas que altas eisso acabará se refletindo no varejo. Éa explicação para omercado ter ficar um pouco mais otimista em relação à trajetória da inflação.

Ainda não há uma superoferta de commodities no mercado internacional. As cotações estariam então refletindo uma leve moderação na demanda chinesa e de outras economias asiáticas, que já não estariam crescendo no ritmo alucinante do ano passado. Era de se esperar que tal mudança viesse aacontecer, em algum momento.

A Rio Negócios, uma parceria entrea prefeitura e iniciativa privada, inspirada na experiência adquirida por Londres como sede dos Jogos Olímpicos de 2012, comemora seu primeiro aniversário este mês com mais um tento. Depois de avaliar oRio como oportunidade, a inglesa Diageo resolveu instalar no município seu novo centro de distribuição de bebidas destiladas (vodca euísque, como os das marcas Red Label e Johnny Walker). A jovem Rio Negócio é uma agência de atração de investimentos diferente de outras bem-sucedidas no Brasil porque é de fato uma PPP (parceria público- privada). São cerca de 20 executivos cedidos temporariamente por empresas privadas, e durante esse período ficam submetidos a um contrato de confidencialidade. Umexecutivo vindo da IBM tem aresponsabilidade de atrair empreendimentos de tecnologia de informação que podem ser até em tese concorrentes da companhia da qual se licenciou, pois na Rio Negócios sua tarefa é pública. Um núcleo de inteligência, que inclui até um geógrafo na equipe, avalia, a partir da localização ideal para o investidor/cliente, áreas que o município identifica como boas oportunidades — e que se encaixem na estratégia de desenvolvimento do município. O cartão de visitas da Rio Negócios, dirigida por Marcelo Haddad, é ocentrode pesquisas da GE, que será instalado junto àUFRJ e ao Cenpes da Petrobras (a obra está programada para o segundo semestre, mas já rendeu “filhote”, pois haverá uma área, não prevista no projeto original, dedicada à Wellstream, empresa adquirida recentemente pelaGE, e que fabrica dutos flexíveis para transporte de óleo e gás extraídos nomar). O Rio cumpria apenas tabela nessa disputa ecom duas semanas de vida a agência conseguiu fazer umtrabalho exemplar, que virou o jogo em favor do município. Fundamentalmente oque aRio Negócios faz é buscar potenciais investidores e tratálos como clientes. Emvez de se limitar a mostrar oque cidade tem a oferecer,a agência inverte o método e começa seu trabalho indagando do investidor: o que ele procura? Não por acaso, a Rio Negócios escolheu como sede meio andar do tradicional prédio da Associação Comercial, na Rua da Candelária, no Centro, onde no hall de entrada há um busto do Barão com os dizeres “aqui é a Casa de Mauá”. O presidente do conselho da agência é Olavo Monteiro de Carvalho, que foi presidente da ACRJ.

O prefeito Eduardo Paes se entusiasmou com o modelo após uma visita a Londres, mas é evidente que a Rio Negócios não resolve todos os obstáculos para viabilizar investimentos no município. Atributação permanece como uma barreira importante. Assim como a alíquota de 5% de ISS tem sido um desestímulo para empresas de tecnologia da informação, na área de saúde o município perde competitividade até com vizinhos no caso de laboratório de análises, especialmente os de tratamento de imagem, que hoje, com os recursos da telemedicina, não precisam mais estar fisicamente próximos de hospitais, clínicas econsultórios. No caso, São Paulo cobra 2% de ISS; Duque de Caxias, a 20 quilômetros do centro do Rio, 1%. Além da tributação, no caso específico das empresas de tecnologia da informação, o consultor Fernando Varella (que foi coordenador do projeto Tecnópolis, em Petrópolis) aponta uma deficiência do Estado do Rio como um todo, que éafalta de entrosamento entre os diversos centros de desenvolvimento epesquisa tecnológica. “Eles não se falam, não se entrosam, não cooperam entre si”, diz. Na opinião do consultor , a Faperj, que se dedica mais ao financiamento de pesquisas científicas, deveria dar mais atenção à pesquisa tecnológica.

É difícil para um carioca escrever sobreessa questão dos royalties do petróleo e não ser acusado de paroquial. Mas realmente éum tema, que se não tratado agora da maneira corretatrará grandes confusões, começando pelo próprio conceito de royalties. Esse tipo de compensação, tão antiga que o termo se refere aos cofres do rei (na época que o erário público e a coroa real se confundiam), está atrelado à exploração mineral, ou seja, de recursos não renováveis. Contra aalegação que os royalties transformaram o Rio em um “emirado”, o economista Mauro Osório fez um levantamento arrasador: em termos de receita pública/PIB, o Rio de Janeiro éo22 o - da Federação (e a explicação para isso é a ausência de ICMS sobreo petróleo extraído). Sem os royalties acabará, quem sabe, no último lugar . E comparando-se a receita corrente líquida por habitante da Região Sudeste, oEstado do Rio só tem três municípios na lista dos 25 maiores (e sendo que um deles, Porto Real, não recebe royalties). Pela regra que Lula vetou, o Estado do Rio passaria a ficar com uma fatia de 1% dos royalties (caindo de uma arrecadação de R$ 7 bilhões para R$ 100 milhões), enquanto vários estados não produtores iriam receber 7%. Seria mesmo uma apropriação indébita.

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