quarta-feira, maio 04, 2011

FERNANDO RODRIGUES - Capitalismo à brasileira


Capitalismo à brasileira
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SÃO PAULO - 04/05/11 

A franqueza do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ajudou ontem a ilustrar o estágio mesozoico em que se encontra o regime de livre mercado no Brasil.
Convidado pelo Senado para falar sobre a economia e a influência do governo na Vale, Mantega explicou que o ex-presidente Lula irritou-se com a mineradora no ano passado por dois motivos.

Primeiro, porque a Vale ‘tinha prometido fazer projetos siderúrgicos no Pará, e não fez’ _no período pós-crise econômica mundial. Outra razão foram as mais de 1.000 demissões na empresa. Aí, o ministro Mantega rasgou a fantasia:

‘O presidente Lula, com justa razão, se manifestou democraticamente. Veja, ele não tomou nenhuma atitude. Poderia ter retaliado a Vale. A Vale é uma concessão, né? Poderia ter aumentado impostos. Não fez nada disso. Apenas ele utilizou o chamado “jus esperniandi’ (...) Não vejo uma situação mais democrática do que essa’.

Como assim Lula ‘poderia ter retaliado’? Como assim ‘poderia ter aumentado impostos’? Na cabeça de Mantega, o presidente da República tem a incumbência e o encargo para tomar tais atitudes ao se irritar com uma empresa.

O ‘sincerocídio’ do ministro chegou ao grau máximo quando decidiu elucubrar sobre o controle acionário da mineradora: ‘Não vejo nenhuma interferência na Vale. Agora, não nos esqueçamos que a Vale tem 60% de Previ e BNDES, que participam da administração’.

Para o ministro da Fazenda, o fundo de pensão Previ é uma extensão do governo. Mas não é ou não deveria ser. Pertence aos funcionários do Banco do Brasil.

Por que Mantega foi tão franco ao revelar seu pendor estatizante e intervencionista? Porque o ambiente no governo enseja esse capitalismo à brasileira. E se o ministro está assim, à vontade, é lícito supor que a presidente concorda com tudo.

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