sábado, maio 21, 2011

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Polícia e autonomia na USP


Polícia e autonomia na USP
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/05/11
São Paulo - "Não é um caso como esse que vai nos dar um argumento bom para colocar a PM dentro da USP." Ouço a frase um pouco estupefato. Quem fala à videorreportagem da Folha.com é uma respeitável professora da Faculdade de Economia e Administração da USP. Ela se refere ao assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, quarta à noite, no estacionamento da FEA, morto com um tiro na cabeça.
Não é mesmo o caso de espetacularizar a tragédia. Nem de minimizá-la. O que mais seria necessário para escancarar que a USP se tornou um lugar inseguro? Ou antes: existe algum bom argumento para que a PM não esteja dentro da USP? Não consigo pensar em nenhum.
Até quando a universidade ficará refém da mentalidade que herdou do regime militar, quando, de fato, a polícia entrava no campus para reprimir e prender arbitrariamente estudantes e professores?
Passaram-se 40 anos. Quem, de fato, acredita que a presença da PM possa significar ameaça à liberdade de manifestação na USP? Ela vai, isso sim, como parece óbvio, aumentar a proteção das pessoas que lá estudam e trabalham, ainda que não seja a única medida a ser tomada, como também vem sendo debatido.
Estamos falando de uma área correspondente a 440 campos de futebol, com vários espaços ermos e muitos pontos de acesso, por onde circulam diariamente até 100 mil pessoas, sendo 80 mil entre docentes, funcionários e alunos.
Ninguém aqui defende a "militarização" do campus. Isso é tolice. O problema talvez seja o inverso. A ideia de que a USP seja um "território livre", uma comunidade imune às regras do mundo externo, é uma distorção abusiva da autonomia universitária conquistada nos anos 80, reforçada ainda pela visão idílica e idealizada do campus, resquício de um pensamento de esquerda afinal muito pouco republicano.
Dizer, hoje, "aqui a polícia não entra" não passa de um cacoete autoritário de quem, já sendo autônomo, gostaria de ser soberano.

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