domingo, maio 01, 2011

ELIANE CANTANHÊDE - Sem choro nem vela


Sem choro nem vela 

ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/05/11

Delúbio Soares deixou de ser tesoureiro e foi expulso do PT porque alguém — além de José Dirceu — tinha que ser sacrificado. Não por um impulso ético, mas por uma premência pragmática: dar uma resposta à sociedade.

Agora, ele é refiliado porque o sacrifício já rendera o que tinha de render. Estava na hora de acabar com a hipocrisia. 

Nenhum tesoureiro age por conta própria, ainda mais num partido como o PT. E nenhum Delúbio age por conta própria quando é a sombra de um Lula, ainda mais de um Lula que era presidente da República no ‘mensalão’. 

Os que votaram pela expulsão, os que votaram pela refiliação e os que votaram nas duas, todos eles sabem que Delúbio era só uma peça da engrenagem. 

Foi conveniente para acionar os esquemas, para entregar a cabeça quando alguma cabeça precisava ser entregue e, agora, para que os petistas possam dormir em paz com sua consciência. ‘Justiça’ foi feita em 2005, para o país ver. ‘Justiça’ foi feita em 2011, para aliviar o peso no PT. 
Lula traçou o ritual de Delúbio. 

Vetou a volta em 2010 para não atrapalhar Dilma e avaliou que não seria em 2012 porque a prioridade será tomar a cidadela tucana em São Paulo. Então, que fosse agora, um ano neutro, com Dilma navegando com tranquilidade e o sonho de 20 anos de PT no poder.

Olhando dessa forma, Delúbio torna-se não um agente decisivo do mensalão, mas um mártir em nome do ‘projeto maior’, que era salvar Lula, o mandato e o PT. 

No mundo real, prático, ele recupera a filiação, mas sem poder se candidatar em 2012. Além de réu no processo do mensalão do Supremo, é ficha-suja por improbidade administrativa (recebia como professor da rede pública de Goiás para operar para o PT em São Paulo).

No fundo, sua volta ao PT simboliza o enterro do mensalão. Só falta Dirceu virar ministro. Você duvida? Eu não duvido de mais nada. 

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