domingo, maio 15, 2011

DANUZA LEÃO - Sabedoria


Sabedoria
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 15/05/11

Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere -porque sempre passa


SE ALGUÉM perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? Detalhe: dinheiro não tem nada a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não. Então o que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada um.

Todos nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar realizada". E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm tudo -por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem-, mas vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o significado da vida?

Temos todos -quase todos- excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?
É difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa privilegiada, outras vezes uma pobre coitada. Depende de quais valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles também mudam.

Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso sim, seria a felicidade -só que também não foi.

Aí achou que o importante seria a realização pessoal, independente da vida sentimental -ou melhor, de um homem. Isso sim, seria a verdadeira felicidade. Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada. Hoje, se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um fracasso, continuaria sem saber responder.

Foram muitos os bons momentos, tão felizes e tão inesquecíveis, que prefere até esquecer. Quanto aos maus momentos, foram também tantos, que faz tudo para não lembrar, e às vezes até consegue.
Se houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não lembrar nem do bom nem do ruim, zerar -é, zerar tudo, como seria bom.

Agora, pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida. Já no dia seguinte acorda péssima, um amigo telefona e fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de repente, deliciosa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica difícil.
Quando as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou.

Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabem que vai passar -porque sempre passa.
A essa resignação se pode chamar sabedoria ou experiência -o que, no final, é mais ou menos a mesma coisa.

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