Além da imaginação
CARTA AO LEITOR
Revista Veja
Imagine um país em que um senador que tinha as contas de sua amante pagas por uma empreiteira, e que perdeu o cargo de presidente da Casa por esse motivo, é indicado na legislatura seguinte para integrar o Conselho de Ética do Senado. Ou seja, para julgar o comportamento de seus pares. Imagine um país em que outro senador arranca o gravador das mãos de um jornalista que lhe fez uma pergunta incômoda, e é apoiado por essa atitude destemperada. Imagine um país em que um deputado federal semianalfabeto, na mais benigna das hipóteses, integra a Comissão de Educação e Cultura da Câmara: Imagine um país em que o partido atualmente no poder concederá perdão ao protagonista do maior escândalo de corrupção da história - e que dá aulas, em seu estado, de Ética Política. Imagine um país em que a nova chefe da Policia Rodoviária Federal tem a carteira de habilitação apreendida por excesso de multas. Em qualquer área, um profissional que comete um deslize é imediatamente afastado de suas funções e, dependendo da gravidade de seu ato, não volta nunca mais à ativa. Mas isso não ocorre na política brasileira. Pelo contrário, os mais enrolados são vistos com admiração por seus colegas, como se professores fossem nas artes da prevaricação e da impunidade, e assim vão galgando postos na contramão da decência.
Em todos os níveis da política brasileira, a ética é afrontada diariamente. Mas em Brasília a situação alcança o surrealismo. Em setembro de 2003, VEJA circulou com uma capa que retratava a capital federal como um pedaço de terra flutuando no ar, com o título "Brasilha da Fantasia". Quase oito anos depois, a lógica de funcionamento da capital federal continua a ignorar as demandas do país. Brasília, como mostra a reportagem que começa na página 78, permanece urna cidade fora do tempo e do espaço, que mantém códigos (i)morais próprios e nutre um insolente desprezo pela opinião pública e pela ética. Imagine um país, prezado leitor, além da imaginação. Esse é o Brasil político.
Em todos os níveis da política brasileira, a ética é afrontada diariamente. Mas em Brasília a situação alcança o surrealismo. Em setembro de 2003, VEJA circulou com uma capa que retratava a capital federal como um pedaço de terra flutuando no ar, com o título "Brasilha da Fantasia". Quase oito anos depois, a lógica de funcionamento da capital federal continua a ignorar as demandas do país. Brasília, como mostra a reportagem que começa na página 78, permanece urna cidade fora do tempo e do espaço, que mantém códigos (i)morais próprios e nutre um insolente desprezo pela opinião pública e pela ética. Imagine um país, prezado leitor, além da imaginação. Esse é o Brasil político.
Excelente carta!
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