sexta-feira, abril 08, 2011

XICO SÁ - Os machões dançaram


Os machões dançaram
XICO SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 08/04/11

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, de repente todos viraram Bolsonaros no ginásio do Riacho, em Contagem, Minas Gerais. Crianças, seguindo a fúria de pais e mestres, vestiram a máscara de Bolsonarinhos. Respeitáveis senhoras da sociedade também bolsonarizaram. Os machões, nem se fala, arrotaram testosterona com bílis verde-oliva.
O bolsonarismo homofóbico tinha como alvo Michael, jogador do Vôlei Futuro, de Araçatuba, que enfrentava o Cruzeiro. O atleta não deixou barato. Com o apoio de seu time e de dirigentes, reagiu publicamente, lavrou protesto e assumiu que era gay mesmo, e daí, qual é o problema, exigiu respeito.
Foi muito mais macho, aqui em um sentido de bravura, do que a massa covarde embalada pelo bolsonarismo latente. "Fiquei constrangido. Já tinha acontecido antes, com grupos menores. Mas foi a primeira vez que vi um ginásio inteiro gritando alto e bom som "gay, bicha". Foi por isso que me manifestei", contou Michael à Folha.
Ninguém é obrigado a se declarar gay e sair do armário. Seja no mundo esportivo, mais conservador e machista do que o pátio dos caminhoneiros, seja na repartição pública. Mas Michael, ao assumir a homossexualidade, deu uma bela contribuição contra o preconceito.
Lá na cidade de Goianinha, a 54 km de Natal (RN), o goleiro Messi, 24, do Palmeira local, aplaudiu a decisão do voleibolista. Ele é um caso raro de jogador de futebol que assume publicamente a orientação sexual. E recomenda o mesmo comportamento aos colegas de bola.
"Depois que assumi [há quatro anos], até mesmo as pequenas manifestações desapareceram. Agora, no máximo, surgem umas brincadeiras", conta o número 1 do Verdão do Agreste. "Além do respeito, me tratam com carinho, dengo, sou o xodó da torcida, como dizem por aqui."
Messi foi o principal responsável pela subida do seu time para a primeira divisão do Campeonato Potiguar. Herói em Goianinha, cidade de 20 mil habitantes, diz que, ao sair do armário, ganhou liberdade também fora de campo. Vai para os forrós, namora, aproveita a vida em público sem constrangimentos.
Os machões dançaram, velho Norman Mailer. Michael e Messi (Jamerson na pia batismal) ficam como exemplos contra a barbárie bolsonarística. Que pode se manifestar em qualquer local e hora. Em Minas ou nas gangues homofóbicas da avenida Paulista.

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