sábado, abril 30, 2011

WALTER CENEVIVA - ONU: velhice e ineficácia


ONU: velhice e ineficácia

WALTER CENEVIVA 

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/04/11

Perto dos 70 anos do fim da guerra, as justificativas para a estrutura da ONU e a sua sede envelheceram


A PRETENSÃO DO BRASIL de ter um lugar no corpo permanente da ONU tem sido uma constante, em concorrência com outros países do Bric, inclusive a Índia, outro dos gigantes em tamanho e população do planeta. Na recente visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi lembrado a ele o interesse de nosso país por um lugar no Conselho de Segurança da ONU.
Parece, porém, haver alteração no posicionamento brasileiro. A presidente Dilma Rousseff aparentemente afastou a possibilidade de nossa inclusão ao dizer que a ONU é um organismo envelhecido. Deixou de ser verdadeiro foro internacional para assegurar a defesa igualitária das dominadoras do poder de veto (Estados Unidos, Inglaterra, França, Rússia e China) desde o conflito de 1939-45.
Agora que caminhamos para os 70 anos do fim da guerra, os motivos que justificaram a estrutura da ONU e sua sede envelheceram.
Trata-se, todavia, de fato concreto, difícil de ser mudado quando se pensa na realidade das nações dominantes. A ONU, conforme aconteceu com sua predecessora, a Liga das Nações, vem perdendo prestígio como órgão destinado a resolver os problemas das relações internacionais. Basta lembrar que o presidente George W. Bush aplicou, neste século 21, sua doutrina, segundo a qual os Estados Unidos, quando lhes parecesse necessário, adotariam medidas unilaterais, compatíveis com os interesses do povo americano, sem observar os preceitos que levaram à criação da ONU.
A União Soviética na Tchechênia e a China no Tibet também impuseram seus padrões sem dar muita atenção às regras do Direito internacional. Outro exemplo está na aplicação do tratado de limitação de armas atômicas. Em primeiro lugar, pela parcialidade dos que já têm tais recursos de destruição de massa, não querendo que outros disponham da mesma força. Nesse campo, nenhuma nação militarmente forte iria buscar o apoio da ONU se se sentisse ameaçada. O exemplo do Iraque foi claro: Bush, ao ordenar sua invasão, sentiu necessidade de divulgar versão, mesmo falsa, que a ONU aceitou, segundo a qual os iraquianos dispunham de armas atômicas. O resultado prático da invasão consistiu apenas no controle do petróleo daquele país.
Os antigos diziam que, na política e na guerra, mentira é como terra. Basta ver a hipocrisia geral das nações mais ricas em face de ditadores da Tunísia, do Egito, da Líbia, do Paquistão e outros, tidos por amigos fiéis, dando apoio em dinheiro, armamentos e auxílios variados. Por isso mesmo, protegidos contra qualquer ataque. A partir do momento em que tais ditadores se mostrarem inconvenientes, a tendência é que sejam postos de lado. A posição da presidente brasileira é correta, mas a ONU está mais que velha. É ineficiente, salvo para atender, no Conselho de Segurança, as reclamações contra os mais fortes, mesmo em se considerando o acesso à Assembleia-Geral, pois nesta os resultados práticos tendem a não ser conseguidos ou obedecidos.
Nesse campo, o acertamento dos compromissos de interesse comum do Brasil com os Estados Unidos, a China e a Europa não passará pela entidade mundial. Valerá em termos próprios das relações econômicas, em que os envolvidos queiram regular diretamente seus próprios interesses.

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