quarta-feira, abril 27, 2011

VINICIUS TORRES FREIRE - A nova classe de partidos médios


A nova classe de partidos médios
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO
PSD, afundação tucana e agonia do DEM não são a "crise da oposição", mas o fim de um ciclo na política


AGORA É moda se ocupar da "crise da oposição". Mas ora se trata mais de derrocada do que de crise.
O desmanche ficou apenas evidente devido a acontecimentos como o partido de Gilberto Kassab (PSD), os estertores do DEM-PFL, a afundação da refundação do PSDB, o estupor causado pelo artigo de FHC sobre a desorientação tucana e, enfim, a turumbamba municipal do PSDB paulistano. A crise mesmo começara em 2002, 2003.
Já no primeiro mandato do governo Lula, o PFL (hoje DEM) começou a se desmanchar. Entre um terço e um quarto dos seus parlamentares aderiram aos partidos governistas. O PSDB sangrou menos, mas sangrou. A debandada parecia, ou talvez fosse mesmo, a debandada típica dos períodos de troca de governo.
Poderia ter sido esse o caso se a oposição tivesse algum projeto para 2006. No caso, o projeto poderia ser apenas do PSDB, pois o DEM-PFL jamais conseguiu nem ao menos passar-se uma maquiagem de "direita orgânica".
Mas o PSDB não tinha projeto. Esperava que o governo caísse de podre, mas não teve coragem de dar um piparote na podridão quando a oportunidade apareceu, na crise mensaleira, na segunda metade de Lula 1 (2005-2006). Tucanos e a elite que jamais tolerou Lula não tiveram coragem de enfrentar o lulismo-petismo. Ficaram com medo das ruas.
A oposição não teve o que dizer mesmo em 2006, quando o crescimento econômico era pequeno e o governo estava na lama. Renegou o governo FHC. Não tinha discurso, programa, base social. Não inventou quadros ou lideranças novos. Seus líderes mais jovens e potenciais candidatos a presidente são vácuos em termos intelectuais e políticos.
A oposição teve ainda menos o que dizer depois do "milagre do crescimento", dos anos de PIB melhorzinho (mas inédito), da inflação baixa e da "pax luliana", os variados acordos de Lula, pactos que ofereciam de benefícios sociais vários a grandes subsídios a empresas, passando pela trégua com a finança e pela reorganização da propriedade da grande empresa.
Essa foi a crise. Mas a crise acabou. O que se chamava de oposição praticamente desapareceu. O PSDB e seu possível enxerto marginal, o DEM, correm o risco de se tornarem apêndices da "oposição intestina". Isto é, o grupamento de partidos que cava favores em governos: PMDB, PSB, PDT, PSD, PTB etc.
Apesar do esvaziamento ideológico e político do PSDB, trata-se do único partido relevante que ainda tem trejeitos de oposição: não está no governo e, em tese, ao que parece, não concorda com o modo petista de governar e pensar. Mas, de tão vazio de ideias e conexões sociais e políticas, por ora resta-lhe apenas a esperança de que o governo Dilma dê com os burros n"água. Que perca o controle da inflação e/ou tenha de recorrer a um arrocho forte a fim de evitar tal descontrole. Isso ou uma crise internacional horrível.
A isso chegamos.
Curioso é que o PT também corre riscos nesse processo de cristalização de agências de fisiologia que são os partidos da "base governista". Sob Lula 1 e agora, o PT evitou receber adesistas. Terceirizou o inchaço do governismo por meio de partidos de aluguel. Agora, pode ficar muito menor que o conjunto das suas criaturas, a "nova classe de partidos médios", e que o PMDB.

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