domingo, abril 10, 2011

MÔNICA BERGAMO - Prazer, Grazi


Prazer, Grazi
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/04/11


"E hoje minha vaidade é cuidar do meu sono, do que eu como. É uma relação que não pode ser de tortura. Ruga aparece, bunda cai."
Ex-miss e participante de reality show, Grazi Massafera protagoniza seu primeiro filme e corre atrás do "tempo perdido" para se atualizar e tentar alcançar o posto de estrela da nova geração
Daryan Dornelles/Folhapress

Grazi Massafera em locação do filme "Billi Pig", no Rio
Sentada de frente para um espelho, dentro de um trailer improvisado como camarim, Grazielli Massafera levanta as duas mãos como se estivesse batendo palmas no ar. "Adoro matar pernilongos!", diz, rindo. "Outro dia fomos filmar numa casinha em Marechal Hermes [subúrbio do Rio de Janeiro] e eu adorei. Que delícia de lugar! Tem um clima de interior, queria morar lá!"

É noite do sábado, 2, e a paranaense de Jacarezinho, 28 anos, está pela primeira vez na feira de São Cristóvão, tradicional ponto de cultura nordestina no Rio. Ali, ela ficará até às 4h da manhã filmando "Billi Pig", primeiro longa-metragem que faz como protagonista. "Era um sonho fazer cinema. O Zé [José Eduardo Belmonte, diretor do filme] já tinha me chamado para um projeto anterior, mas achei que não era a hora. Depois, me deu um apertinho no peito. Hoje tô aqui, feliz!", diz à repórter Lígia Mesquita.

Na produção da Bananeira Filmes, ela é Marivalda, uma aspirante a atriz que se mete em confusão com o marido, Wanderley (Selton Mello), e recebe conselhos de um porco falante.

O cabeleireiro chega e começa a fazer ondas com "babyliss" no cabelo da atriz. "Agora subi na vida. Tô com a Grazi, que é linda, educada, um doce", diz o profissional, acostumado a cuidar de outras estrelas. Grazi, de macacão de algodão florido e sandálias rasteiras, tira de uma enorme bolsa, sem marca, uma barra de chocolate com pistache e um videogame portátil Nintendo. "Adoro esses joguinhos!"

Filha de um pedreiro e de uma costureira, Grazi foi eleita miss Paraná em 2004. No ano seguinte, foi uma das participantes do reality show "Big Brother Brasil" (TV Globo). Perdeu a competição para Jean Wyllys, mas, mesmo sem ter sido agraciada com o prêmio de R$ 1 milhão, é tida como o exemplo mais bem-sucedido de ex-BBB.

Quando saiu do jogo, ganhou uma vaga de repórter no "Caldeirão do Huck" e posou para a edição de 30 anos da "Playboy". Depois, foi convidada por um dos diretores da emissora a virar atriz e frequentar a oficina de atores da Globo. Hoje, contabiliza quatro novelas, uma minissérie e uma série no currículo. "Algumas pessoas teimam em dizer que tenho problema com essa época do "BBB". É a minha história e tenho o maior orgulho dela."

"Num primeiro momento, não acreditei em mim. Mas resolvi tentar e fui fazer as aulas da oficina de atores. Apareceram outros trabalhos e fui ganhar dinheiro. Aí, me chamaram [os diretores da TV] novamente e disseram: "É séria [a proposta]. Você quer ou não virar atriz?" Aí me dediquei três meses em tempo integral."

Nos intervalos de uma cena no parque de diversões da feira, Grazi ataca duas tapiocas: primeiro uma de coco e depois uma de queijo coalho. Na bolsa de sua personagem, carrega a barra de chocolate de pistache e vai comendo aos poucos pedacinhos do doce enquanto conversa com Selton Mello. "Nos primeiros ensaios com o diretor tive um cuidado para não travar contracenando com o Selton. Sou fã do trabalho dele", diz a atriz.

Grazi, que já afirmou ter sofrido preconceito por parte de colegas no começo da carreira, não gosta de tocar no assunto. "Preconceito vem da gente. Quando você encara as coisas com otimismo, elas melhoram. É assim que resolvi encarar. Mas também não vou ser hipócrita. É claro que houve [discriminação]."

"Ô, Grazi! Olha aqui, por favor! Você é muito linda, vem conhecer minha filha", grita Cesar Alves, "técnico de ar-condicionado automotivo". Grazi vai até onde ele está e brinca com sua filhinha. Começa a chover e a atriz é escoltada por um segurança com guarda-chuva quando precisa caminhar. Enquanto aguarda sentada sua vez de filmar, uma mulher grita pedindo foto. Ela se vira e sorri. "Bem que falaram que você era gente boa! Dá para perceber", retribui a fã.

Tratar bem as pessoas, em sua cartilha, faz parte da educação. "Quando você é bem tratado, isso vem naturalmente. O que eu tô sentindo é independente do meu trabalho. Não é porque acordei de mau humor que vou tratar mal as pessoas."

Com o assédio dos paparazzi ela aprendeu a lidar. "Cada um faz o seu trabalho", diz. Ela conta que não deixa de fazer nada por conta dos fotógrafos, "mas dei um tempinho da praia". "Porque você vai um dia e a foto que fazem repercute tanto tempo que parece que a gente vive na praia (risos)."

O relacionamento de quatro anos com o ator Cauã Reymond é algo que o casal opta por não expor. "A nossa relação não é de venda, comercial. Ele já se destaca no que faz e eu venho de alguma maneira me destacando no que faço. Se a gente quiser também expor a relação, só vamos nos prejudicar."

O casal mora em uma casa no bairro Itanhangá junto com os cachorros Carol, Luana, Juno e Simba e os gatos Sophia Loren, Brad Pitt e Johnny Depp. "As pessoas adoram perguntar o que a gente gosta de fazer. E eu digo: nada de diferente de nenhum casal!"

No domingo, 3, ela aproveita a folga para dormir e assistir filmes. "Revi "Dançando na Chuva", "Todos Dizem Eu te Amo", "Romances e Cigarros"". Está lendo um livro de crônicas de Martha Medeiros. Recentemente, leu "Madame Bovary" por indicação do colega Felipe Camargo. "Brinco que tô sempre recuperando o tempo perdido, que deixei de ver as coisas", diz, com o sotaque carregando no "R" que traz da infância no interior do Paraná. "Tô investindo na minha formação e não tem fim. Ando vendo muita coisa boa e ficando crítica. É bom, mas não pode te atrapalhar a realizar."

"Hoje, se tudo der certo, vou malhar! Há 15 dias não vou à academia", diz, na segunda-feira, ao sair de uma casa no alto da Gávea, outra locação do filme. A preocupação com a beleza ela garante que hoje está muito mais relacionada com a saúde. "Eu era mais vaidosa. Cuidava muito do externo e achava que tava sempre fazendo a coisa certa, pintando e torrando o cabelo na chapinha. E hoje minha vaidade é cuidar do meu sono, do que eu como. É uma relação que não pode ser de tortura. Ruga aparece, bunda cai."

O autoconhecimento e amadurecimento vem ganhando com ajuda da análise que faz há um ano. "Achava que era coisa de doido, que não precisava. Tô aprendendo a me dar ouvidos."

O rótulo de Cinderela e de exemplo de história saída dos contos de fadas, a atriz recusa. "É tudo muito real. Por mais que pareça um sonho, tudo acaba. Sei que é um momento."

É com os pés no chão que ela conta que faz uma poupança. "Invisto meu dinheiro para poder me dedicar a outros projetos, para que eu não seja só a operária." Algum sonho consumista? "Não quero ter iate, helicóptero, nada disso. É só mais coisa para administrar."

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