domingo, abril 10, 2011

FERREIRA GULLAR - Oi tortura!


Oi tortura!
FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SÃO PAULO - 10/04/11

Pois bem, este mês, mais uma vez, o boleto não chegou e a Oi bloqueou o telefone da Maria


MARIA, MINHA empregada, mora em Anchieta, zona oeste do Rio, numa rua que, até há bem pouco, era um buraco só. Era um buraco havia 20 anos. Denunciei isso aqui e o prefeito Eduardo Paes me ligou e prometeu consertá-la. E cumpriu, está quase toda pavimentada.
Mas, naquela região, telefone funciona precariamente. Por todas as razões, inclusive porque a conta não chega antes da data de vencimento e a Oi, que atrasa no envio, bloqueia o telefone do inadimplente! Pode?
Pois bem, este mês, mais uma vez, o boleto não chegou e a Oi bloqueou o telefone da Maria. Liguei para lá, expliquei o caso e recebi a seguinte resposta: ela pode pagar a conta numa casa lotérica, mas com multa, e dentro de quatro horas o telefone estará desbloqueado.
"Quer dizer que vocês atrasam na entrega do boleto, cortam o telefone e a pessoa ainda será multada? Quem devia ser multada era a Oi, que é culpada do atraso, o senhor não acha?"
Bem, falei por falar. Maria foi à casa lotérica, pagou a conta e ficou esperando o desbloqueio do telefone, que não ocorreu. Nem no prazo de quatro horas nem nos dias subsequentes. Maria veio pedir minha ajuda. Liguei para a Oi, atendeu uma gravação que prometeu passar-me a um atendente.
Entrou a música, esperei, esperei, uma voz prometeu que eu logo seria atendido, a música continuou, a voz alguns minutos depois prometeu que eu seria atendido... Finalmente, muito tempo depois, fui atendido. Fiz um resumo da ópera e a atendente afirmou que o telefone seria desbloqueado em 24 ou 48 horas. "Por que tanto tempo?", indaguei. "É o prazo da companhia", respondeu a moça, e eu me calei.
Isso foi na quinta-feira. Na segunda-feira, Maria, de volta ao trabalho, disse-me que o telefone continuava desligado.
"Pois vai ficar desligado, porque não tenho mais saco para ligar para a Oi. É uma tortura."
Ela se resignou e voltou para a cozinha. Terminei o texto que estava escrevendo e, arrependido, decidi ligar para a maldita Oi! Atendeu aquela mesma gravação, que logo prometeu encaminhar a um atendente. A musiquinha insuportável começou a tocar, repetidamente, interrompida, de vez em quando, por aquela mesma voz dizendo que eu logo seria atendido. Armei-me de paciência e fiquei esperando... "o senhor logo será atendido..." E tome música... "o senhor logo será atendido"... E tome música! E tome música! E tome música!!!
Pensei, já fulo da vida: mas não existe uma lei que limite o tempo de espera dos telefonemas comerciais? E por que a Oi continua a abusar da gente sem que nada lhe aconteça? Foi então que a música parou e ficou só o silêncio. Acho que vão me atender, pensei. Mas o silêncio continuou indefinidamente... Entendi que a ligação havia caído!
"Não acredito", disse a mim mesmo, revoltado. "Depois de esperar tanto, cai a ligação! Vou ter que fazer tudo de novo?"
Desliguei o telefone, mas fiquei com ele na mão. Se eu não voltar a telefonar, o telefone da Maria continuará desligado, talvez para sempre! É, não tem jeito, vou ter ligar de novo. E liguei.
Atendeu a mesma gravação e me pediu o número do telefone para o qual pedia providências. Ditei algarismo por algarismo: 30378596. Veja se entendi, falou a voz: 30278596... Não, não: 3037... Ele afinal entendeu. Qual o problema? "Telefone mudo", falei.
"Entendi, telefone mudo. O senhor terá que tirar o telefone da tomada, desligar a secretária eletrônica, a extensão que houver, depois ligar o telefone de novo. Se continuar o problema, telefone para nós. Se já tiver feito isto, aguarde para ser atendido".
Fiquei aguardando. A música chata voltou a tocar... e de vez em quando a promessa: "logo será atendido"... Espichei-me no sofá, disposto a ficar ali até o final dos tempos.... "logo será atendido..." ...."logo será atendido..." Afinal, o silêncio. Gelei! Vai cair a ligação de novo! Mas uma voz atendeu.
Narrei-lhe todo o drama por que estava passando.
"Um momento", disse o atendente. Fiquei tenso, esperando.
"Dentro de 24 a 48 horas um técnico irá ao local fazer o reparo."Irá?

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