quarta-feira, abril 13, 2011

CELSO MING - Convulsões no petróleo


Convulsões no petróleo
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/04/11

Ontem, uma saraivada de informações fortemente desencontradas, no tempo e nas projeções, trouxe novamente o petróleo à berlinda da análise econômica mundial.
A Agência Japonesa de Segurança nuclear (Nisa, na sigla em inglês) reconheceu que o nível de risco do acidente nos reatores nucleares de Fukushima atingiu a magnitude 7 (numa escala até 9), comparável ao do maior desastre nuclear até hoje ocorrido, o de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, integrante da então existente União Soviética.
Em consequência disso, os preços do petróleo caíram 3,34% em Nova York e 2,47% em Londres, porque a notícia reforçou as projeções de redução da atividade econômica no Japão e, portanto, de menor consumo de petróleo.
Também ontem, a Agência Internacional de Energia, organismo que assessora os grandes consumidores globais, divulgou o relatório de abril em que afirma que a escalada dos preços do petróleo já provoca queda do consumo de combustíveis.
Enquanto isso, o indicador SpendingPulse, da Mastercard, deixou isso mais bem mensurado. Avisou que a semana terminada no dia 8 foi a terceira consecutiva em que se verificou queda do consumo de combustíveis nos Estados Unidos. E, por causa de números assim, a principal exportadora de petróleo do mundo, a Arábia Saudita, avisou que está providenciando cortes de 500 mil barris diários no seu fornecimento, que havia sido reforçado com o avanço da crise na Líbia.
Essas informações não encerram o caso, pois aproxima-se a primavera no Hemisfério Norte, prenúncio da estação seguinte, o verão, quando o consumidor americano não consegue deixar o carro na garagem nem mesmo em tempos de convalescença econômica, como agora.
Graças à essa compulsão, a Administração de Informações sobre Energia (EIA, na sigla em inglês), do Departamento de Energia dos Estados Unidos, projeta um preço recorde do galão (3,785 litros) de gasolina de US$ 3,86. Como os negócios com suprimento de petróleo têm de ser fechados três ou quatro meses antes (para dar tempo ao transporte, ao refino e à distribuição), essas variáveis têm de ser consideradas desde já. E essa é uma das razões pelas quais a derrubada dos preços ontem registrada tem boa probabilidade de não configurar uma tendência.
Por aí se vê como a economia mundial, tão dependente do suprimento de combustíveis fósseis, fica à mercê de informações e projeções tremendamente desencontradas sobre os fatos desse mercado.
Provavelmente levando em conta esses fatores, lá de Pequim, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, voltou a martelar sobre a necessidade de elevar os preços da gasolina no Brasil, que há 9 anos não são reajustados para cima. Gabrielli tem de zelar pelo caixa da Petrobrás por ter uma imensidão de investimentos previstos no desenvolvimento dos novos campos do pré-sal.
A presidente Dilma Rousseff já passou o recado de que não quer reajustes da gasolina, por saber a quantas já anda a inflação nacional. Mas, na administração Lula, além de ministra das Minas e Energia, na condição de ministra-chefe da Casa Civil comandou o processo de formatação das novas regras do pré-sal e sabe do que a Petrobrás precisa.

CONFIRA
Mais renda no Interior 

O professor Fernando Homem de Mello, especialista em Economia Agrícola, do Departamento de Economia da FEA-USP, concluiu que a safra agrícola em curso está produzindo "um substancial aumento da renda agrícola em 2011".

Ideia do tamanho
"Deveremos ter para oito produtos o expressivo aumento de 31,5% em seus preços FOB (em reais)" - registra em texto que sairá dentro de duas semanas no boletim "BIF", da Fundação de Pesquisas Econômicas da USP - Fipe.

Linha de frente

Esses oito produtos são: café, suco de laranja, algodão, açúcar, cacau, soja, trigo e milho.

Proporções 
O professor Homem de Mello também se apoia nos levantamentos do professor José Garcia Gasques, que indicam: esses oito produtos representaram 74% do valor bruto total dos principais produtos brasileiros em 2010". 

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