Inovação sem segredo
ALEXANDRE HOHAGEN
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/11
HÁ ALGUMAS semanas, tive o privilégio de me conectar com pessoas completamente diferentes, no entanto com ideias bastante alinhadas, que me fizeram pensar em como vivemos em um mundo tão dinâmico, disruptivo e aberto a transformações.
Um amigo e empreendedor que conheci na China há alguns anos me apresentou um consultor que mora em Londres, que me convidou a conhecer o líder da banda U2, Bono Vox, durante sua apresentação no Brasil, na semana passada.
Bono é um fã incondicional do Facebook. Ele estava interessado em saber mais sobre o crescimento acelerado da empresa no Brasil. Bono reservou uma sala privada para conhecer algumas pouquíssimas pessoas. Entre elas, estava o juiz maranhense Marlon Reis, um dos coordenadores do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), rede que congrega 50 entidades e foi responsável pelo projeto que deu origem à Lei da Ficha Limpa.
Marlon me encontrou e, entusiasmado, logo disse que o Facebook, juntamente com o Twitter, tinha sido o catalisador mais importante do movimento Ficha Limpa. Por meio dessas duas redes sociais, seu movimento tomou força e se transformou em tema de prioridade nacional. Bono se encantou com a força do movimento integrado por Marlon e por isso quis conhecê-lo.
Na mesma semana, jantei com o presidente mundial do eBay, John Donahoe, que durante reunião com empresários comentou sobre a importância que os usuários têm no processo moderno de inovação. E tanto o eBay quanto o projeto Ficha Limpa são exemplos muito distintos, mas absolutamente sinérgicos da inovação centrada nas pessoas.
Se pensarmos em como a inovação acontecia no século passado, as novas ideias eram geradas em pequenas salas, completamente protegidas, com segredos e patentes trancafiados a sete chaves. O grande diferencial era sempre fazer algo que não pudesse ser facilmente copiado.
Tudo era segredo, e o acesso estava restrito a pouquíssimas pessoas. Era o modelo de inovação baseada na manufatura. Na capacidade de produzir bens que fossem únicos.
A inovação ao longo dos últimos 20 anos sofreu uma mudança radical. As empresas perceberam que inovar também é um processo evolutivo e coletivo. Criar novos conceitos e deixar que os usuários os aprimorem é parte da filosofia das empresas mais inovadoras e modernas dos tempos atuais. Empresas como Amazon, Google, eBay, Facebook e Twitter se basearam na força da inteligência coletiva para tornar seus produtos muito mais relevantes.
E o melhor de tudo é que essa nova realidade está transpondo as fronteiras puramente digitais. Empresas mais tradicionais, como a Fiat, também perceberam que os usuários, por outro lado, estão amadurecendo e demandando produtos e serviços cada vez mais com a sua cara, em linha com seus interesses.
O Fiat Mio é uma ideia brasileira, reconhecida mundialmente como o primeiro projeto de construção de um carro-conceito, totalmente baseado em ideias coletadas de milhares de pessoas de todo o mundo.
Exemplos como o da Ficha Limpa, do eBay e da Fiat reafirmam que há em curso uma transformação na maneira como grandes ideias estão cada vez mais atreladas ao interesse dos usuários. Na internet, não é diferente. Imagine se a Amazon não tivesse a capacidade de entender quem é o usuário no momento em que ele entra na sua página. A internet está sendo reconstruída em torno das pessoas. Da conexão entre elas. Da maneira como as pessoas se comportam, de acordo com seus interesses e cada vez menos como um repositório frio de informações.
E as companhias começam a perceber essa mudança. A entender a importância de criar um diálogo constante com seus usuários. A era da comunicação de uma via, das ideias fechadas, está no fim. Terão sucesso aquelas empresas que entenderem como responder às demandas de seus usuários, discutindo abertamente novas ideias e oferecendo plataformas para se conectar com seus consumidores. Tudo de maneira aberta, sem segredos.
Alexandre, seu post relata exatamente a mudança que está ocorrendo em grandes corporações. Vejo que ainda há um espaço enorme para que as Médias e Pequenas empresas aprendam essa dinâmica e co-criem seus produtos, personalizando e gerando vantagem competitiva.
ResponderExcluirAbs, Alexandre Alves