quarta-feira, março 30, 2011

VINÍCIUS TORRES FREIRE

A prudência esfriou o crédito
VINÍCIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

O CUSTO DO dinheiro e o ritmo de concessão de empréstimos levaram mesmo uma gelada com as "medidas macroprudenciais", baixadas pelo Banco Central em dezembro.
Passou-se um trimestre depois da implementação das medidas de restrição "administrativa" do dinheiro disponível para financiamentos. Não é mais possível ter dúvidas sobre a força que tiveram em conter o ritmo animado de concessão de crédito que se via até novembro.
É o que dão a entender os números do balanço mensal de operações de crédito do sistema financeiro, divulgado ontem pelo Banco Central.
O ritmo de concessão de crédito novo está igual ou inferior aos níveis registrados em novembro de 2010, a depender do tipo de empréstimo.
Os juros para os tomadores finais subiram muito mais do que seria previsível se o único instrumento utilizado pelo Banco Central fosse o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Subiriam, aliás, de qualquer maneira, mais que a Selic. Mas o impacto foi algo maior que o estimado por economistas de alguns bancões.
Pode-se dizer que, nos primeiros rounds do novo modus operandi da política monetária (que afeta juros e crédito), o Banco Central marcou pontos. Nesse novo modus, o BC admite que pode adotar outras medidas que não apenas o aumento da Selic a fim de apertar o crédito, esfriar a economia e conter a inflação.
No final do ano passado, o "governo de transição Lula-Dilma Rousseff" decidira que o BC tomaria medidas a fim de reduzir a oferta de crédito. Assim, os bancos foram obrigados a estacionar mais dinheiro no caixa do BC. Desse modo, diminuiu o volume de dinheiro disponível para empréstimos. Além do mais, o BC induziu os bancos a reduzir os prazos de financiamento e a elevar as taxas de juros, exigindo mais capital de reserva para cada operação nova de financiamento.
Eram as "medidas macroprudenciais". Trata-se de normas que têm como objetivo primário evitar um excesso de empréstimos que acabe em calotes e problemas em bancos, mas que também servem para conter o consumo e a inflação.
Agora, a dúvida maior é a respeito do tamanho do impacto dessa contenção de crédito no conjunto da atividade econômica e, por fim, na inflação. Vai levar pelo menos mais um trimestre para que seja possível avaliar o sucesso da "nova política monetária". Pelo menos e com boa vontade, pois o ritmo da economia vai depender ainda de outras medidas e da realização ou não de algumas promessas do governo.
Por exemplo, anteontem o governo criou imposto sobre empréstimos externos de curto prazo, dinheiro que irrigava o caixa dos bancos e, assim, servia para aumentar a oferta de crédito.
Além do mais, ainda são desconhecidos os efeitos, se algum, da política fiscal (gastos do governo) sobre a atividade econômica -ainda não se viu o governo implementar, de fato, o corte anunciado de R$ 50 bilhões no Orçamento.
Por fim, mas não menos importante. Quando o governo resolveu forçar os bancos públicos a emprestar mais de modo a evitar uma recessão em 2008, o "mercado" dizia que tal atitude era algo irresponsável. Que os bancos públicos fariam empréstimos ruins. Que haveria calotes. Etc. Bem, não houve nada disso. A inadimplência caiu velozmente depois de 2009. Para registro.

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