quinta-feira, março 17, 2011

SILVIO MEIRA

Por uma educação empreendedor
SILVIO MEIRA


FOLHA DE SÃO PAULO - 17/03/11

TODO BOM empreendimento, toda boa empresa, é uma boa escola. E não há exceções. A ponto de o colaborador de um negócio qualquer dever, pelo menos uma vez por semana, se perguntar o que aprendeu nos últimos 7, 14, 21 dias.
Se, vez após vez, a resposta for muito pouco ou (quase) nada, é hora de procurar algum lugar que, junto com seus colaboradores, esteja construindo o futuro.
Em quase todos os lugares onde não se aprende nada isso não ocorre porque não há problemas, mas porque a cegueira cognitiva reinante no lugar impede que se façam as perguntas que, feitas, criariam as oportunidades de aprendizado para todos. E negócios onde não se aprende o tempo todo, em tempos de economia do conhecimento, estão a caminho do grande cemitério dos CNPJ...
Se olharmos para as últimas décadas da vida nacional, uma possível interpretação é que levamos um longo tempo para pôr em ordem um número de aspectos essenciais à existência ordenada do país.
A ordem democrática e a ordem econômica são duas conquistas que não podemos minimizar, sob pena de, esquecendo o passado, comprometer o futuro. Em tempos mais recentes, houve também um grande progresso na ordem social, trazendo para a cidadania um sem-número de indivíduos e famílias que viviam completamente à margem da sociedade. Mas isso não basta.
Depois de dar os primeiros passos na direção de um país sem sobressaltos em qualquer das outras ordens, é preciso fazer muito mais, é preciso fazer com que cada cidadão entenda seus direitos e deveres, suas escolhas e riscos, o valor de sua contribuição à nação, seu poder como pagador de impostos e eleitor.
Sem esquecer de sua potencial contribuição econômica, ainda mais como empreendedor de si mesmo em uma economia onde conhecimento em rede é cada vez mais o principal vetor de atividade.
Parece que o Brasil está entendendo, tardia mas finalmente, que chegamos num platô de performance do qual dificilmente sairemos sem um aumento significativo da quantidade de pessoas que tenham passado, com uma boa performance, por um sistema educacional de qualidade.
Um tal sistema não "fabrica" conhecimento em série, qual linha de produção da revolução industrial.
Para atender educandos em quantidade e qualidade para as demandas de um país complexo em um cenário internacional de competição quase sem fronteiras, é preci- so que o sistema educacional seja baseado em métodos e mecanis- mos de criação de oportunidades de aprendizado que só costuma- mos ver como exceção no nosso ambiente educacional.
Se escolhermos investir seriamente em educação, como parece que pode ser o caso nesta década, tomara que tal escolha signifique mais e melhores conteúdos e práticas de línguas, lógica, matemática, computação e ciências, para melhorar a qualidade de nosso "peopleware", educando muito mais gente nos fundamentos para participar da economia do conhecimento como cidadão de primeira classe.
E tomara que a "escola industrial", que nos tenta ensinar respostas para perguntas já conhecidas, seja paulatinamente substituída por uma "escola de conhecimento", onde a maior parte do esforço se dá ao redor da descoberta das per- guntas, onde cada um empreende sua capacidade de aprender e, no caso dos professores, sua capa- cidade de criação de oportuni- dades de aprendizado.
Se cuidarmos de criar, manter e evoluir um sistema educacional empreendedor, mudaremos nossa visão de mundo. Ao invés de respostas padronizadas para questões já definidas, uma educação empreendedora vai nos levar a perguntar quais são os problemas -nossos e dos outros- e como podemos descobrir novas e inovadoras soluções.
E isso vai ser um grande passo para a criação de novas capacidades empreendedoras em um país que precisa fazer muito mais que fornecer commodities.
Esse é o tema de uma série no meu blog (no link http://bit.ly/gGB9XB), já no 18º texto, tratando de inovação e empreendedorismo no contexto de uma educação verdadeiramente empreendedora. 

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