segunda-feira, março 28, 2011

RICARDO YOUNG

Homem planetário
RICARDO YOUNG
FOLHA DE SÃO PAULO - 28/03/11
 
Vem da Nigéria e desembarca na sala de conferências do Hotel Tropical em Manaus.
Não é chefe de Estado, mas tem aparato de segurança como se fosse. Salões inteiros são esvaziados à sua chegada, e a ansiedade de centenas de pessoas só é aplacada quando começa a discorrer sobre os problemas do mundo.
Transita por temas que vão das epidemias à biotecnologia; das energias renováveis ao papel da internet nas revoltas pan-arábicas; da crise econômica à obsolescência de políticas públicas anacrônicas.
Fala de chefes de Estado como se amigos fossem e fala de países como se em todos habitasse.O mundo para ele não tem fronteiras, não tem limites. É um lugar instável, desigual e insustentável, mas é o seu lugar: um espaço/tempo de possibilidades infinitas.
Olha o Brasil com um olhar de esperança. Espera que o país assuma o compromisso de ser o primeiro líder planetário em energia renovável, tratamento de lixo urbano, eliminação dos resíduos sólidos, eliminação da pobreza, manutenção das florestas e da biodiversidade.
Vê um país generoso, que olha o mundo com vocação solidária. Um país cujas vantagens comparativas o convocam para agir à altura de suas responsabilidades.
Governador, senadores, empresários, artistas, ambientalistas, lideres de ONGs, cientistas, todos o escutam. No auditório, silêncio devocional.
Suas palavras são sorvidas, uma a uma. Afinal, é observador do mundo, operador de sonhos, livre, sem nenhuma institucionalidade.
O século 20 produziu homens e mulheres notáveis. Gandhi, Churchill, Martin Luther King, Mandela, madre Tereza, o dalai lama....Todos se eternizaram ao abraçar causas universais e por terem lembrado a nossa condição humana naquilo que nos apequena e naquilo que nos engrandece.
Mas todos operaram a partir de um território nacional e daí projetados para o mundo e para a história. Nesse caso, estávamos na presença de alguém cuja nacionalidade tornou-se irrelevante.
Que fala de uma não territorialidade e ao mesmo tempo da territorialidade de todos, o planeta. Talvez seja o primeiro líder planetário forjado na globalização...não sei.
Mas afirmou, ao final, que ninguém deveria criticar o que fosse. A desigualdade, a instabilidade e a insustentabilidade não permitem mais hesitações. Todos deveriam propor e agir para aliviar os males que parecem estar nos colocando no beco escuro da civilização.
Bill Clinton deixou a sala aplaudidíssimo.
Uma saudade imensa daquilo que poderíamos nos tornar inundou aquele recinto no coração da Amazônia.
Sustentabilidade, igualdade, estabilidade. Que sonho é esse que reverbera, habita o mundo e não quer calar?

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