domingo, março 13, 2011

ELIO GASPARI

A Bolsa-Copom plantou uma jabuticabeira
ELIO GASPARI

O GLOBO - 13/03/11

O banqueiro Gastão Vidigal ensinou: "Nós não fazemos produto, produto é coisa que se pode embrulhar"


O ANDAR DE CIMA nacional precisa pensar na vida. A revista americana "Forbes" divulgou sua lista de bilionários e nela há 30 brasileiros e brasileiras com mais de US$ 1 bilhão. O legendário banqueiro paulista Gastão Vidigal ensinava que instituições financeiras não lidam com produtos, pois "produto é coisa que se pode embrulhar", como pregos e sabonetes.
Aplicando-se esse critério à lista da "Forbes", resulta que no Brasil há 13 bilionários na turma dos produtos (Eike Batista, Jorge Paulo Lemann e Ermírio de Moraes, por exemplo), e outros 15 cujo patrimônio derivou principalmente da atividade bancária (Safra, Villela e Moreira Salles).
No grupo da banca, nove dos bilionários pertencem à segunda geração dos fundadores do Itaú-Unibanco e do Bradesco. Alguns deles têm outras atividades profissionais (quando as têm). Dos 9 magnatas suíços, só 1 está no ramo de investimentos.
Na lista dos 10 maiores bilionários do mundo, 8 lidam com produtos e, entre eles, há apenas um lote de herdeiros, os Walton, do Wal-Mart, empresa que revolucionou os hábitos de consumo americanos.
O peso dos bilionários da banca brasileira é único. Para ficar na área dos Brics, dos 30 maiores magnatas russos, 20 lidam só com produtos; na Índia, 23; e na China, onde a banca é controlada pelo Estado, a turma está quase toda produzindo, ou negociando com imóveis.
Esse é o produto da Bolsa-Copom, com seus juros lunares.

UNIDOS

O DEM e o PT entendem-se melhor do que se pensa.
Um bom pedaço de cada partido trabalha para prorrogar a festa de compadres que exploram atividades comerciais nos aeroportos.
Os dois estão silenciosamente combinados para tentar empurrar o voto de lista numa gambiarra da reforma política. Nesse lance está, há tempo, até um pedaço do PSDB.

FORA DESSA

Enganou-se o professor Ives Gandra Martins num debate com o ex-deputado Ayrton Soares, mediado pela jornalista Monica Waldvogel. Raymundo Faoro, presidente da Ordem dos Advogados, não foi o autor do projeto da anistia, votado pelo Congresso em 1979. Em abril de 1979, o senador Petrônio Portela, ministro da Justiça, apresentou ao Planalto suas "primeiras ideias gerais" sobre o projeto.
Um rascunho, de maio ou junho daquele ano, foi anotado pelo chefe do gabinete civil, general Golbery do Couto e Silva, com relevantes intervenções. É provável que tenha vindo de Petrônio, de Faoro é que não veio. Não era seu estilo fazer projeto em segredo.

LIGAÇÃO PERIGOSA
O flerte do tucanato com a Força Sindical na escaramuça do salário mínimo levou-o a uma inédita aproximação com o deputado Paulo Pereira da Silva.
Se metade do que cada um já disse do outro em público for verdade, os dois estão perdidos.

PRESSA
A Prefeitura do Rio está apressada. Diz que as pedras encontradas debaixo do cais da Imperatriz são do atracadouro do Valongo, onde desembarcavam os escravos trazidos d'África. Seria ótimo se alguém mostrasse ao Iphan um documento mostrando que o cais de 1843 foi construído sobre o outro, de 1758.

GADDAFILEAKS
Ao ameaçar o presidente francês Nicolas Sarkozy com a revelação de "um grave segredo", relacionado com o financiamento de sua campanha eleitoral, o encrenqueiro líbio colocou no ar uma nova arma: o GaddafiLeaks.
Pode dar samba.

MADAME NATASHA
Madame Natasha tem horror a números e, no seu esforço para despoluir o idioma, concedeu uma bolsa de estudo coletiva a todos aqueles que usam medidas americanas para descrever objetos. Coisas assim: a tela do iPad tem 9,7 polegadas, a do Kindle tem 6 e o monitor de uma televisão, 38.
A polegada é uma medida de comprimento excêntrica, usada em poucos países. Além dos Estados Unidos, há a Libéria e Mianmar. Os demais seguem o sistema métrico decimal, criado na França e adotado no Brasil desde 1872. (Na Inglaterra rodam os dois.)
Mesmo os americanos, quando sabem que estão falando para uma plateia internacional, registram a medida em polegadas, convertendo-a para centímetros dentro de um parênteses.
Natasha crê que um brasileiro, ao registrar a medida de um produto em polegadas, pratica um exercício de preguiça (quando está traduzindo algum texto) ou de presunção (quando pretende mostrar que sabe uma coisa que a freguesia ignora).
A polegada mede 2,54 centímetros, portanto, a tela de um iPad tem cerca de 25 centímetros.
Natasha propõe que cada pessoa disposta a defender o uso das medidas americanas num texto em português seja capaz de dizer qual a sua altura em pés e polegadas. Ou ainda, que informe o tamanho de seu apartamento de 50 metros quadrados. (Ele tem 538 pés quadrados.)

A lista em que falta o Brasil

Na mesma semana em que a revista "Forbes" iluminou 30 bilionários brasileiros, o semanário inglês "THE" ("Times Higher Education") publicou sua lista das cem melhores universidades do mundo. Cadê o Brasil? Micou e não ficou nem sequer entre as 200. Em 2009, a USP fora a 92ª na área da saúde.
Cruzando a lista dos bilionários com a das universidades, a coisa fica feia. A China teve incluídas cinco instituições, a Índia e a Rússia têm uma cada uma. A América Latina, nenhuma.
Nem tudo é ruína. No pequeno mundo dos cursos de formação de executivos, uma avaliação do "Financial Times", deu a Pindorama o 8º lugar com a Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte, e o 13º com o Insper, de São Paulo. Ambas são instituições privadas.
Não é o caso de retomar a discussão sobre o futuro das universidades públicas, até porque, com poucas exceções, o estrago da privataria na rede particular garante que ela ficará fora de qualquer lista por mais 50 anos.
Os 30 bilionários brasileiros poderiam refletir em torno da história de um casal americano. Chamavam-se Leland e Jane. Tinham um só filho e, em 1884, ele morreu em Florença, aos 16 anos. O casal quis preservar sua memória. Podia ser com um museu, uma escola técnica ou uma universidade.
Procuraram o presidente de Harvard, a quem conheciam, e aprenderam que uma universidade lhes custaria US$ 5 milhões. Entreolharam-se e viram que tinham esse trocado, pois a fortuna do casal ia a US$ 50 milhões (US$ 1 bilhão em dinheiro de hoje). Voltaram para a Califórnia e criaram a Universidade Stanford, com o sobrenome da família. Ela é hoje a 5ª melhor do mundo, e a localidade de Palo Alto, cujas terras eram de Leland, é o pulmão do progresso tecnológico americano.
Pouca gente se lembra do senador Leland Stanford como um dos "barões ladrões" da Califórnia, nem da estrada de ferro transcontinental que ajudou a abrir, como uma monumental rapinagem, pois ela mudou a geografia dos Estados Unidos.
Pelas contas da Forbes, os 30 bilionários brasileiros têm um ervanário de US$ 130,5 bilhões.

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