domingo, março 20, 2011

ELIANE CANTANHÊDE

Chuvas e bombas
ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/03/11

BRASÍLIA - Choveu à noite e ainda chovia quando o Air Force One se aproximou de Brasília, famosa pela seca desértica. Mas, quando o avião tocou o solo, fez-se o sol. Um alívio para a diplomacia brasileira. Obama, Michelle e as duas filhas desceram as escadas sem problemas na primeira visita ao Brasil.
A torcida era para que a visita seguisse o mesmo "script" e, precedida de temores, resultasse em sucesso. Mas o tempo e o momento não ajudaram, com radiação atômica no Japão, o mundo árabe em chamas e principalmente as nuvens de guerra sobre a Líbia.
Enquanto Dilma e Obama se reuniam no Planalto, jatos franceses sobrevoavam o país de Gaddafi. A visita, o Brasil, as relações bilaterais passaram ao segundo plano. Sobretudo na mídia.
Para piorar, Obama desembarcou no Brasil dois dias depois da resolução da ONU que, além de liberar o ataque à Líbia, colocou EUA e Brasil em lados opostos.
Obama articulou a resolução e os dez votos decisivos, enquanto o Brasil trabalhava a abstenção dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) e da própria Alemanha, com quem divide o G-4, grupo dos países que almejam uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Essas nuvens que pairaram sobre a visita pioravam a cada momento, diante do temor de que os ataques começassem bem na hora dos discursos e da assinatura do comunicado conjunto. De fato, começaram no meio do banquete no Itamaraty.
A quilômetros do Planalto e das solenidades oficiais, centenas de empresários brasileiros e americanos esfregavam as mãos diante das oportunidades a serem geradas, mas o grande tema econômico seria petróleo, e o secretário de Energia, Stevens Chu, cancelou a vinda na última hora.
O que sobra da viagem? O gesto, a elegância de Obama e o discurso de cobrança de Dilma. Nada disso foi ou será manchete no mundo.

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