quinta-feira, março 31, 2011

CLÓVIS ROSSI

Ficha suja no cassino
CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11

SÃO PAULO - Como você reagiria se um desses parlamentares "fichas-sujas" presidisse a Comissão de Ética do Congresso, com plenos poderes para emitir juízos de valor sobre a confiabilidade de seus pares, de empresas e até de países?
Ficaria enfurecido, apoplético, certo? Pois é, meu caro, é exatamente isso que acontece todo santo dia no mundo real da economia global -e ninguém fala absolutamente nada, nadica de nada.
Estou me referindo às agências de "rating" ou avaliação de risco, que, todo santo dia, emitem "diktats" sobre a capacidade de pagamento de empresas e países, como está acontecendo neste exato momento com Portugal.
Qual é a ficha dessas agências? Eis o que diz relatório do Congresso norte-americano sobre a atuação delas na caminhada que levou à crise global de 2008:
"Concluímos que as falhas das agências de classificação creditícia foram engrenagens essenciais na maquinaria de destruição financeira". Anotou direitinho o termo? "Destruição financeira" não é uma ficha suja trivial, certo?
Mas tem mais: "As três agências [Moody"s, Standard & Poor"s, Fitch] foram ferramentas-chave do caos financeiro. Os valores relacionados com hipotecas, que estiveram no coração da crise, não teriam sido comercializados sem seu selo de aprovação".
Ou seja, essa turma deixou passar o fato de que as hipotecas ditas subprime eram um lixo, o que significa que são absolutamente incompetentes para julgar quem merece crédito e quem não, certo?
Por fim, o relatório conclui que, não fossem as agências, a crise não teria ocorrido. Não obstante, ficaram impunes e continuam com a prática de "destruição financeira".
Pior: os jornalistas somos cúmplices. Engolimos mansamente suas avaliações de risco sem avisar o leitor qual é cor (suja) da ficha de quem faz a avaliação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário