quarta-feira, março 23, 2011

CELSO MING

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CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/03/11

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, fez nesta terça-feira uma longa e bem explicada exposição sobre as condições da economia brasileira na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
Os parlamentares gostaram da maneira persuasiva com que ele se comunicou. Nem de longe pareceu um desses banqueiros centrais que adoram expressões herméticas ou carregadas de duplo sentido, como “exuberância irracional dos mercados” ou “propensão marginal ao consumo”.
O tom de sua apresentação foi calculadamente otimista, apesar do mar de incertezas em que flutua a economia global. Não escondeu os riscos que correm tanto a economia mundial como a brasileira e conseguiu passar o recado de que a economia ainda precisa reforçar seus fundamentos e sua blindagem contra eventualidades funestas.
As principais críticas do pronunciamento de Tombini encontram-se nas suas omissões. Ele identifica, por exemplo, uma disparada do consumo e um relativo atraso da oferta de bens não suficientemente reequilibrada com o suprimento de importações. Também reconhece que a inflação do setor de serviços reflete grave desequilíbrio. Mas, em nenhum momento, por exemplo, foi capaz de reconhecer que essas deformações foram causadas pelas excessivas despesas correntes do governo federal, determinadas, por sinal, com objetivo eleitoral e, malandramente, ocultadas nos balanços fiscais elaborados com dosagens variadas de mandracaria contábil. Se admitisse tudo isso, Tombini não revelaria nenhuma novidade. O próprio governo já entendeu que devesse determinar cortes no orçamento com o objetivo de abrir espaço para que o Banco Central pudesse acionar com mais qualidade a política de juros.
Tombini também não reconheceu que ao longo do segundo semestre do ano passado o Banco Central ficou atrás da curva. Não detectou a tempo a cavalgada da inflação e acionou tarde demais tanto os mecanismos de ajuste macroprudencial como a política de juros. Agora, provavelmente, os juros terão de subir mais do que teriam de subir se o Banco Central tivesse acorrido a tempo.
Uma terceira omissão rondou a análise da política de crédito. Tombini deixa claro que é preciso conter a expansão dos financiamentos bancários para evitar os efeitos exagerados sobre o consumo. Em outras ocasiões, o Banco Central chegou a advertir que o BNDES e outros bancos oficiais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) trabalham contra esse objetivo. Mas, dessa vez, Tombini não ousou cutucar todas essas onças.
Uma quarta omissão pode ser identificada na sua longa explicação dedicada à expansão das reservas externas. O presidente do Banco Central avisou que os US$ 310 bilhões em reservas (ou 15% do PIB) constituem um necessário “colchão de segurança”, que deve ser incrementado para enfrentar os fluxos ainda mais intensos de entrada e saída de capitais. Mas não foi capaz de reconhecer que algo mudou nessa política. Hoje, o Banco Central não amontoa reservas apenas para reduzir a volatilidade do câmbio – como dizem as autoridades da área –, mas, principalmente, porque pretende evitar a valorização ainda mais intensa do real – objetivo que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já chegou a reconhecer.
De todo modo, considerando-se o conjunto da obra, Alexandre Tombini teve um bom começo.
Consumo e PIB. Dois são os principais fatores desse avanço de quase 13%. O aumento do consumo (que teve a ver com a disparada das despesas públicas) e o aumento do PIB, de 7,5% em 2010
E o fiscal? É provável que tenha atuado um terceiro fator, de mais difícil mensuração: o aumento da eficiência arrecadatória da Receita federal.

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